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Capítulo 26: Manual para um viver santo (exposição de Romanos 12)

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Se fosse possível escolher uma porção das Escrituras como manual ou guia para a vida cristã, com certeza não haveria passagem melhor que ir até os capítulos finais de Romanos. Temos aqui a responsabilidade do crente nos vários relacionamentos da vida. Neste capítulo tentaremos fazer uma exposição de Romanos 12.

Entraremos no que se chama a parte prática da carta de Paulo aos romanos. Se a parte doutrinária desta carta é desagradável para alguns, a parte prática o será mais ainda. Aquele que despreza as misericórdias de Deus, vai se rebelar contra Seus mandamentos. A cristandade prática deve se firmar numa cristandade doutrinária. Não se pode separar doutrina da vida. É como G. Campbell Morgan diz: “Não se pode plantar tulipas do Reino de Deus, a menos que se tenham os bulbos do céu”. A conduta do homem é fruto do que ele crê. A flor de uma vida temente a Deus tem raízes profundas no solo da graça que se experimenta.

Paulo, após nos dar a maior de todas as exposições da graça e misericórdia de Deus; extravasa seus sentimentos de êxtase adoradora ao ver como Deus age: e segue com uma exortação para se tornar esta a conduta por parte daqueles que podem segui-lo nas experiências gloriosas das misericórdias de Deus.

O GRANDE APELO DE PAULO (v. 1-2).

1. Ele roga. Ele não ordena como Moisés que deu a lei. O ministro crente não pode dar ordens nem obrigar; ele só pode conseguir que as coisas sejam feitas ao rogar. Uma hierarquia cristã, quer na forma de uma Missão Batista, ou por Bispo Metodista, ou Papa Católico Romano, é contraria à própria norma da cristandade do Novo Testamento.

2. Ele roga pelas misericórdias de Deus. Este é o maior dos argumentos para uma vida consagrada. Paulo quer que as misericórdias de Deus sejam notadas e produzam fruto para a glória de Deus. O mais alto e mais puro de todos os motivos humanos é agir em apreciação pelas misericórdias de Deus.

3. Paulo roga aos irmãos. A exortação é ministrada aos santos. Ele não apela a pecadores, mas àqueles que tiveram uma experiência com a graça e a misericórdia de Deus.

4. Ele roga que apresentem seus corpos a Deus. O corpo do crente deve ser um sacrifício vivo em contraste com os animais mortos oferecidos sob a lei. Não é para se obter, mas sim para se reconhecer a bênção da salvação. É um sacrifício de louvor. O corpo é para ser um sacrifício santo. Sob a lei, os animais oferecidos em sacrifício tinham que ser cerimonialmente puros e fisicamente saudáveis. Sob a graça, o corpo humano deve ser moralmente puro. Um corpo impregnado de bebida alcoólica é um sacrifício imundo. O sacrifício deve ser agradável a Deus. Não é ao homem e nem mesmo à igreja que devemos agradar – é a Deus. A consagração é primeiramente a Deus e não a uma causa ou um serviço. Pode-se consagrar a uma boa obra sem ao menos se pensar em Deus. Tudo deve ser feito como ao Senhor. O sacrifício do crente constitui seu “culto racional”. A palavra grega para racional é “logikos” e quase sempre é traduzida como inteligente, racional, espiritual, etc. Ela é encontrada em outro lugar apenas no Novo Testamento grego (I Pedro 2:2) onde está traduzida pela frase “o leite racional”, que tem a mesma raiz que “logos”, significando “palavra”. O culto do crente a Deus tem que ser regulado pela Palavra de Deus. Isto é de suma importância, pois é fácil se ocupar com o que Deus não ordenou, de um modo também não ordenado por Deus; isto mesmo, talvez até se esteja fazendo o que Deus já proibiu.

5. Ele roga que os crentes sejam diferentes. “E não vos conformeis com este mundo”. Mundo aqui significa os habitantes do mundo moralmente considerado. O mundo é mau; ele jaz no maligno (I João 5:19). O diabo é seu deus. Ele domina o mundo. O mundo é centralizado em si mesmo e controlado por Satanás. O crente não deve concordar nem ser igual a ele. Ele não deve se conformar com o mundo em seu modo de pensar e de agir. O crente deve pensar e agir de acordo com a Palavra de Deus.

6. “Mas sede transformados”. A palavra grega é “matamorfoo”, e significa “mudar de aparência”. É a palavra usada para a transfiguração de Cristo. Em nosso texto, denota uma mudança moral, a ser realizada pela renovação da mente. Mudança de mente – novos pensamentos e novos ideais – acontece na regeneração, e esta mudança de mente deve ser renovada e aprofundada. A transformação exterior deve começar na mente e no coração. Se a conduta do homem tiver que ser certa, seu pensar tem que ser certo. Deste modo o crente vai saber qual é “a boa, agradável e perfeita vontade de Deus”, sendo capaz de demonstrá-la no seu dia-a-dia. Os crentes são os “mostruários”de Deus. Temos que mostrar o fato e o valor de Deus na vida humana. O mundo comercial usa este método para vender. O vendedor de carro o colocará na direção do carro dele, a fim de mostrar-lhe a velocidade e o conforto ao dirigir. O vendedor de geladeira vai colocar uma geladeira em sua casa, com experiência, para que você possa ver suas qualidades de refrigeração. Nesta época de tanta competição muita coisa é vendida sob experiência. É uma questão solene e pertinente que o crente deve fazer a si mesmo: Que tipo de “mostruário” estou sendo para Jesus Cristo, a Quem professo confiar, amar e obedecer? Que impressão minha vida faz nos outros?

TAREFAS ESPECIAIS BASEADAS EM DONS ESPECÍFICOS (v. 3-8).

1. Faça uma estimativa justa do seu dom. Há medidas diferentes de fé – não pense que sabe tudo – não aja como se fosse o “Dr. Sabe-Tudo”. Pense seriamente em você e suas habilidades. Não se envenene com o orgulho. Reconheça os dons dos outros. Seja humilde.

2. Somos muitos membros em um só corpo. Cada igreja (a assembléia local) é um corpo de Cristo e se parece com um corpo humano. Cada membro tem seu próprio dom e lugar no corpo e o que ele faz afeta todo este corpo. Cada membro da igreja deve ser querido e bem-amado pelos outros membros.

3. Cada membro deve exercer seu próprio dom. Não é um talento natural, mas um dom dado de modo soberano pelo Espírito Santo. Há sete deste dons dados abaixo.

A. Profetizar. Esta é a capacidade dada pelo Espírito de articular a verdade divina. Significa especificamente a predição de eventos futuros, mas parece ter um sentido mais amplo no Novo Testamento, inclusive o dom de explicar as Escrituras. Tanto é predizer quanto proclamar. Não há mais predição, desde que o Novo Testamento foi completado. Temos na Bíblia toda a verdade que precisamos para nosso bem-estar espiritual.

B. Ministrar. A palavra grega significa serviço e é usada num sentido amplo. É usada em relação a Cristo em Romanos 15:8; a Febe em Romanos 16:1; refere-se ao ofício de diácono em Filipenses 1:1, I Timóteo 3:8. Em nosso texto não parece se referir a um ofício, mas a um serviço prático na igreja, o qual não é nomeado. Cada membro tem que prestar algum serviço.

C. Ensinar. A capacidade de ensinar a Palavra de Deus é um dom do Espírito. É um dom que o pastor deve ter (I Timóteo 3:2). Um simples exortador nunca deve ser ordenado pastor.

D. Exortar. Isto significa chamar à responsabilidade e dissuadir do pecado, e requer um talento peculiar – o dom do Espírito. Não é um ofício. Precisamos de leigos em nossas igrejas com o dom da exortação – homens que possam desafiar os irmãos à uma atividade maior; que sejam mais que “esquentadores de banco”. A exortação de um leigo temente a Deus parece ter mais efeito do que a de um pastor.

E. Dar. Dar tanto é uma responsabilidade quanto é uma graça (II Coríntios 8:9). É responsabilidade de todos e graça concedida a alguns. Onde esta graça é exercida, haverá grandes presentes para o trabalho da igreja. Vamos ser grandes doadores, mas sem fanfarra nem ostentação.

F. Governar. A palavra no grego significa “ir adiante”ou “tomar a liderança”. É usada para o pastor em I Timóteo 3:4 e 5:17. Como líder, o pastor deve ser zeloso e diligente. Pastorado não é lugar de preguiçoso.

G. Exercer Misericórdia. O dom de ajudar o necessitado e de perdoar o inimigo. Deve ser feito com alegria; ansiosa e sinceramente. João Gill (pastor inglês do século 18) acredita que os três últimos dons: dar, governar e exercer misericórdia se referem a três funções diferentes do ofício de diácono. Talvez sejam.

RESPONSABILIDADES GERAIS BASEADAS NOS RELACIONAMENTOS ESPIRITUAIS (V. 9-16).

Versículo 9. O amor deve ser sincero, sem hipocrisia. Amor fingido é ódio disfarçado. “Aborrecei o mal”. Não basta deixar de fazer o que é errado: é preciso odiar o pecado. “Apegai-vos ao bem”. Nosso dever cristão não é só o lado negativo; há também um lado positivo ao seu caráter. À medida que odeia o mal, ele deve amar e se apegar ao que é bom.

Versículo 10. Devemos amar uns aos outros, como membros da mesma família. E onde estiverem envolvidas a honra e a preferência, devemos querer que outro irmão as receba. A visão do mundo é receber honra, mas os crentes devem competir uns com os outros em dar honra.

Versículo 11. “Não sejais vagarosos no cuidado”. Isto não se refere ao trabalho secular, mas ao serviço ao Senhor. Devemos ter fervor pelo trabalho de Deus. Stifler traduz este versículo assim: “No zelo (na parte exterior) não sejam preguiçosos; no espírito (a parte humana interior) sejam fervorosos; servindo ao Senhor”.

Versículo 12. “Esperança … tribulação … oração”: a parte principal da vida de muitos. Talvez não possamos nos regozijar nas presentes condições, mas podemos nos regozijar na esperança de um dia melhor. E esta esperança dará paciência e perseverança no dia da aflição, porque a esperança vê um fim para ele. E, ao mesmo tempo em que esperamos e sofremos, podemos continuar orando.

Versículo 13. Temos que aliviar as necessidades dos crentes e praticar hospitalidade. Isto implica na posse particular de bens e está muito longe do que pregam o socialismo e o comunismo. Alguns têm mais que outros. Aqueles que têm, devem compartilhar, voluntariamente, com o que não têm. Mas nunca se deve tolerar nem encorajar a indolência. Ver II Tessalonicenses 3:10-11 para uma verdade equilibrada. Cada lar cristão deve ser uma pousada onde membros da família da fé possam encontrar acolhida. Hebreus 13:2.

Versículo 14. Abençoe os que o perseguem. O crente nunca deve reagir igual a eles. Não devemos lutar contra o diabo com fogo; ele sabe mais sobre essa arma do que nós. Temos que abençoar a quem nos amaldiçoa; e não reagir “dente por dente”.

Versículo 15. Compartilhe as experiências pelas quais os outros passam. Regozije-se com os que se regozijam e chore com os que choram. Eis aqui a sabedoria cristã. Cristo não chorou em Caná, nem riu no túmulo de Lázaro.

Versículo 16. “Sede unânimes entre vós”. Seja uma pessoa fácil de se conviver. Respeitem-se mutuamente e que esta atitude alcance os mais humildes. Não seja esnobe nem exclusivista. O mundo negligencia e rejeita quem é humilde, mas Cristo morreu por pessoas assim e devemos ter comunhão com elas no corpo de Cristo. Não se ache o maior!

GRAÇAS CRISTÃS PARA COM O MUNDO (v. 17-21).

Versículo 17. “A ninguém torneis mal por mal”. Vença o mal com o bem. Seja honesto. Os olhos do mundo estão a observá-lo, por isso, cuidado como anda! Mateus 5:16.

Versículo 18. Faça tudo para viver em paz com todo mundo. Certifique-se que não está entre os culpados, quando a paz for destruída. Se os homens o odeiam, deixe que o odeiem por seu amor à verdade e não pelo mal que faz.

Versículo 19. Não procure se vingar. A vingança pertence a Deus. Quando um crente busca vingar-se – quando tenta descontar o que o inimigo lhe fez – ele próprio se solta das mãos do Pai Celestial. É como se dissesse que pode resolver o caso com o inimigo, melhor do que Deus. Não usurpe o lugar de Deus no juízo; espere e Ele vai agir! Ele resolverá tudo no tempo certo.

Versículo 20. Seja bondoso para com seu inimigo. Ajude-o, se estiver precisando. Deste modo, você vai amontoar brasas vivas sobre a cabeça dele. Este é o único castigo que poderá lhe infligir – e cuidado para não fazê-lo literalmente. Perguntaram a certa senhora, que se queixou dos maus tratos do marido, se já tentara amontoar brasas vivas sobre a cabeça dele. Ela respondeu: Não, mas já joguei um balde de água quente em cima dele!

Versículo 21. Seja um vencedor. “Não te deixes vencer do mal, mas vence o mal com o bem”. Lute contra o seu inimigo com as armas da bondade. Você vence ao fazer do inimigo um amigo, deixando a vingança com Deus, a quem ela pertence. Que tanto o autor quanto o leitor possam receber graça para darem atenção a estas admoestações que repreendem a carne!

Published inDefinição de doutrina – Volume 2