Skip to content

Capítulo 20: A segurança dos santos

[Índice]

Neste capítulo usaremos três expressões de modo alternado: a Segurança dos Salvos, a Preservação dos Salvos e a Perseverança dos Salvos. Embora não sejam idênticas, estas expressões afirmam a mesma coisa em relação aos salvos, a saber: a segurança eterna que têm. O poder de Deus em preservar os Seus é responsável pela perseverança do salvo na fé e em santidade. “Porque o Senhor ama o juízo e não desampara os seus santos; eles são preservados para sempre; mas a semente dos ímpios será desarraigada”. Salmo 37:28.

Existem duas doutrinas mutuamente exclusivas, antagônicas e destrutivas. Não existe nenhuma possibilidade de conciliação entre as duas. Não podem nem dão arrego. Uma é verdadeira, a outra é falsa. Uma se chama, popularmente, apostasia, que significa que uma pessoa salva, nascida de Deus, herdeiro da natureza divina, justificada pela fé em Jesus Cristo pode, por causa do pecado, perder a salvação, tornando-se filha de Satanás e no fim ficar perdida para sempre. A outra é conhecida como a perseverança dos salvos, que significa que alguém que nasce de Deus, salva pelo chamado eficaz do Espírito Santo, justificada pela fé no Senhor Jesus Cristo, pode fazer o que é errado, entristecendo assim o Espírito Santo, perdendo a alegria da salvação e trazendo sobre si a disciplina corretiva do Senhor; mesmo assim, esta pessoa persevera na fé e nunca perderá sua salvação.

A apostasia se baseia na salvação pelas obras, quer no todo ou em parte. A segurança se baseia na salvação pela graça de Deus. A primeira faz da salvação um projeto do homem; a segunda faz da salvação uma obra divina. Se a salvação vier do homem, o fracasso não só é possível, mas certo; a salvação que vem do Senhor é sempre bem sucedida.

Uma destas doutrinas é estabelecida pelas Escrituras, a outra é negada pela Bíblia. Por isso, todos os argumentos prós ou contra devem se basear nas Escrituras. A razão, experiência e prova humanas, não acham lugar neste debate. “O que diz a Escritura?”, deve ser nossa estrela-guia.

O QUE É A DOUTRINA

A doutrina que defendemos é raramente, quase nunca, corretamente enunciada pelos que a rejeitam ou se opõe a ela. Vestem-na de trajes falsos e horrendos, sendo ridicularizada e jogada ao desprezo. Os oponentes criam um homem de palha e depois o fazem em pedaços. Nunca tratam da doutrina, como é crida e pregada por seus amigos.

1. Não faz parte da doutrina que todos os membros da igreja estão seguros e, com certeza, vão para o céu.

Todos os membros da igreja devem ser salvos, mas, que pena, alguns não são. Àqueles que não têm outro alicerce ao pensarem que são salvos, a não ser a membrezia, esta doutrina não oferece nenhuma esperança nem lugar para regozijo. A segurança é garantida aos salvos, pessoas que nasceram de Deus, que são justificados pela fé em Cristo! Estas pessoas são preservadas por Deus e perseveram em sua união com Cristo como Senhor e Salvador. A fé perseverante em Cristo é a grande característica distintiva dos salvos, em relação aos que a professam superficialmente.

“Porque nos tornamos participantes de Cristo, se retivermos firmemente o princípio da nossa confiança até ao fim”. (Hebreus 3:14) Quem se tornou participante de Cristo pela fé, vai perseverar nesta fé até o fim da vida.

“Jesus dizia, pois, aos judeus que criam nele: Se vós permanecerdes na minha palavra, verdadeiramente sereis meus discípulos”. (João 8:31) Existe uma fé temporária, cuja raiz verdadeira não se acha no que a professa, onde nunca houve realmente a experiência da graça. É a fé do coração, cujo solo é pedregoso. Mas os discípulos verdadeiros possuem uma fé que lhes foi dada por Deus e que é contínua na Palavra de Cristo.

“Saíram de nós, mas não eram de nós; porque, se fossem de nós, ficariam conosco; mas isto é para que se manifestasse que não são todos de nós”. (I João 2:19) Estas pessoas são professos superficiais, não verdadeiros, não nascidos da graça de Deus e a saída deles da comunhão dos santos torna manifesto o verdadeiro caráter que têm. O Apóstolo João afirma claramente que se fossem realmente salvos, continuariam na comunhão deles. Este versículo apóia, sem nenhuma dúvida, nossa doutrina. Judas Iscariotes oferece uma ilustração apropriada da apostasia de falsos professos. Ele nunca foi um crente de verdade, embora se associasse a eles. “Mas há alguns de vós que não crêem. Porque bem sabia Jesus, desde o princípio, quem eram os que não criam, e quem era o que o havia de entregar”. (João 6:64)

2. Não faz parte da doutrina que todos aqueles ativos em obras religiosas serão eternamente salvos.

Muitos obreiros religiosos não são salvos. Nunca nasceram de novo. Nunca se fizeram participantes da natureza divina. O Salvador diz: “Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? e em teu nome não expulsamos demônios? e em teu nome não fizemos muitas maravilhas? E então lhes direi abertamente: Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniqüidade”. (Mateus 7:22-23) Os “Flagellants” faziam parte de uma seita religiosa na Itália, no século XIII. Continuaram ativos enquanto puderam desfilar pelas ruas, flagelando-se publicamente. Mas, quando as procissões foram proibidas, a seita acabou. Não conseguiram viver na obscuridade. Na época de Cristo, havia muitos que faziam coisas, a fim de serem notados pelos homens e receberem elogios. Existe ainda razão para se crer que o povo dos que amam o som do aplauso humano, não se acabou na terra. Os salvos devem mostrar sua fé pelas obras, mas estas obras são feitas por amor a Cristo, não em busca do aplauso humano. Que esta verdade possa sondar o coração tanto do escritor quanto do leitor.

3. Não faz parte da doutrina que os salvos não podem cair no pecado.

Os salvos já caíram e ficaram bem machucados na queda. Mas cada queda não significa um pescoço quebrado, quer física ou espiritualmente. Muitos caíram e viveram para contar a história. E, assim, na vida do crente, os salvos caíram no pecado e quem entre nós se atreve a negar que nunca pecou? Cadê esta pessoa que nunca pecou? O pecador não foi salvo para se tornar sem pecado, nem é mantido salvo ao viver uma vida sem pecado. O pecador foi salvo ao confiar em Cristo como Salvador e é mantido salvo pelo poder de Deus, através da fé. Ele continua como começou; Um pobre e débil pecador que confia num Salvador poderoso. A pessoa que nasce de Deus nunca pode se perder, porque nunca renunciará à sua fé em Cristo, nem sairá em busca de outro Salvador nem cederá ao desespero. Escute o que diz a Palavra de Deus: “Ó inimiga minha, não te alegres a meu respeito; ainda que eu tenha caído, levantar-me-ei; se morar nas trevas, o Senhor será a minha luz”. (Miquéias 7:8) “Porque sete vezes cairá o justo, e se levantará; mas os ímpios tropeçarão no mal”. (Provérbios) ”Os passos de um homem bom são confirmados pelo Senhor, e deleita-se no seu caminho. Ainda que caia, não ficará prostrado, pois o Senhor o sustém com a sua mão” 23. Os passos de um homem bom são confirmados pelo Senhor, e deleita-se no seu caminho”. (Salmo 37:23-24)

PROVA DE QUE A DOUTRINA É VERDADEIRA

Os argumentos das Escrituras são tão abundantes que mal se pode saber onde e como começar a organizá-los. Salvo é aquele que foi eleito por Deus Pai, redimido por Deus Filho e regenerado por Deus Espírito Santo. Sendo assim, a primeira razão que damos para a segurança do salvo é a seguinte:

1. Todas as pessoas da Trindade são por ele: “Que diremos, pois, a estas coisas? Se Deus é por nós, quem será contra nós?” (Romanos 8:31)

A. O Pai é por nós na eleição: “Quem intentará acusação contra os escolhidos de Deus? É Deus quem os justifica”. (Romanos 8:33) Ele é por nós na predestinação: “Porque os que dantes conheceu também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos”. (Romanos 8:29) Ele é por nós no chamado eficaz: “E aos que predestinou a estes também chamou; e aos que chamou a estes também justificou; e aos que justificou a estes também glorificou”. (Romanos 8:30) “Mas, quando aprouve a Deus, que desde o ventre de minha mãe me separou, e me chamou pela sua graça”. (Gálatas 1:15) Ele é por nós na justificação: “É Deus quem os justifica”. (Romanos 8:33b) Ele é por nós no dom do Seu Filho: “Aquele que nem mesmo a seu próprio Filho poupou, antes o entregou por todos nós, como nos não dará também com ele todas as coisas?” (Romanos 8:32) Ele é por nós em Seu propósito de nos glorificar: ”E aos que justificou a estes também glorificou”. (Romanos 8:30b)

B. O Filho é por nós na redenção (Gálatas 3:13); na intercessão (Romanos 8:34, João 17:9, Hebreus 7:25); Em Sua segunda vinda (João 14:3, Hebreus 9:28, I Tessalonicenses 4:14-18).

C. O Espírito Santo é por nós: na regeneração (Efésios 2:3); na intercessão (Romanos 8:26); como um selo (Efésio 4:30); em nossa ressurreição (Romanos 8:11). Ou repetindo a mesma coisa – o nascer do Espírito torna o salvo seguro (I João 3:9, I João 5:4, 18, I Pedro 1:23); o Espírito habitando no salvo o torna seguro (I Coríntios 6:19, João 14:16); o selo do Espírito o torna seguro. O selo é uma marca de propriedade; ele dá segurança ao que é selado; dá garantia de uma entrega segura. Haldeman descreveu um lindo vaso que viu certa vez. Era quase todo coberto com enfeites externos, tinha um selo enorme sobre ele e uma inscrição dizendo que havia sido comprado por um príncipe oriental. Devia ser-lhe entregue no palácio da capital. O salvo tem um selo, uma marca e uma inscrição que declara que ele foi comprado por Jesus Cristo. Este selo do Espírito Santo nos marca como propriedade de Cristo, garantindo nossa segurança e também que seremos entregues com toda segurança na cidade eterna, no céu. Ainda estamos cobertos com as marcas externas da carne pecaminosa, mas naquele grande dia estas marcas serão tiradas e brilharemos como o sol, no reino do nosso Pai.

2. O salvo é seguro porque todos os atributos de Deus são por ele. A vontade de Deus é por ele: “E a vontade do Pai que me enviou é esta: Que nenhum de todos aqueles que me deu se perca, mas que o ressuscite no último dia”. (João 6:39) O poder de Deus é por ele. Cristo disse: “Meu Pai, que mas deu, é maior do que todos; e ninguém pode arrebatá-las da mão de meu Pai”. (João 10:29) Ver também I Pedro 1:5 e II Timóteo 1:12. O amor de Deus é pelo salvo. Nada poderá nos separar do amor de Deus que está em Cristo Jesus (Romanos 8:35-39, João 3:16). A misericórdia de Deus é pelo salvo. Deus é rico em misericórdia (Efésios 2:14) Foi a misericórdia que nos deu vida quando estávamos mortos e ela não destruirá o que salva. A santidade de Deus é pelo salvo: “Uma vez jurei pela minha santidade que não mentirei a Davi. A sua semente durará para sempre, e o seu trono, como o sol diante de mim”. (Salmo 89:35-36) A Palavra de Deus e Seu juramento foram dados àquele que correu para Cristo em busca de refúgio, a fim de que possa ter uma “firme consolação”. (Hebreus 6:16-18)

A sabedoria de Deus é pelo santo. A sabedoria encontrou um resgate (Jó 33:24). Cristo Se fez sabedoria por nós (I Coríntios 1:30). A sabedoria divina levou em conta todas as contingências na obra da salvação. A justiça de Deus é pelo santo. A justiça fez Cristo morrer pelos pecados do crente e ela não punirá duas pessoas pela mesma ofensa. Se uma morreu como substituto por todos (os eleitos), então segue-se que todos morreram (II Coríntios 5:14). O pecado pelo qual Cristo morreu foi nosso pecado imputado a Ele; portanto, Sua morte para o pecado foi nossa também, e isto levou Paulo a dizer: “Assim também vós considerai-vos como mortos para o pecado, mas vivos para Deus em Cristo Jesus nosso Senhor”. (Romanos 6:11)

3. O salvo é seguro porque não está mais sob a lei moral como modo de ganhar a vida eterna. Quem estivesse sob a lei teria que cumpri-la perfeitamente ou então seria condenado. Se quebrasse a lei uma vez, em um só ponto, tornava-se um transgressor, sendo condenado. O único modo possível de escapar à condenação e ao juízo é sair de sob a lei. E o único modo de fazer isto é confiar em Cristo, que é o fim da lei para cada crente (Romanos 10:5). Não podemos ficar livres da lei obedecendo-a. Se possível, a obediência impediria a condenação, mas não tiraria o culpado de sob a lei. Naturalmente, não podemos ficar livres dela ao quebrá-la; porque por ela, no fim, seremos condenados e punidos. Não se pode sair de sob a lei ao se lamentar, pois lamentar-se não satisfaz a lei. Ela também não pode ser deixada de lado. Tem que ser satisfeita. O único modo de se sair de sob a lei moral de Deus é através da fé em Cristo, o Qual enfrentou seu castigo e satisfez suas reivindicações contra o pecador, através de Sua morte na cruz.

O crente é então declarado morto para a lei (Romanos 7:1-4). Paulo nos lembra que a lei tem domínio sobre um homem enquanto ele viver. Para se ser salvo, deve-se morrer para a ela. Ele ilustra o pensamento usando a lei matrimonial. A lei prende a mulher ao marido enquanto ele viver. Quando ele morre fisicamente, ela morre para a lei que a prendia àquele homem em particular. Então vive como mulher, mas não como esposa. Assim é o crente, diz Paulo. Ele está morto para a lei pelo corpo de Cristo. A morte de Cristo foi a morte do crente para a lei moral de Deus, e estando morto para a lei; ele não mais está sob ela como modo de ganhar a vida eterna. Cristo disse: “Disse-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim”. (João 14:6)

O crente está livre da lei do pecado e da morte (Romanos 8:2). Não há lei pela qual aquele que confia em Cristo possa ser condenado. Deus iria contra Sua própria Palavra, se mandasse um salvo para o inferno.

4. O salvo está seguro eternamente do perigo do inferno, porque ele está morto para o pecado (Romanos 6:11). Esta é a morte no sentido judicial e se baseia na morte vicária (que substitui) de Cristo. O crente não está morto para o pecado subjetivamente, apenas objetivamente. Ele ainda não está morto para o pecado como experiência, pois se torna mais sensível ao pecado como salvo do que quando era um pecador perdido. Ele está morto para a culpa e pena do pecado porque Cristo pagou o preço com Seu próprio Sangue na cruz do Calvário. “Levando ele mesmo em seu corpo os nossos pecados sobre o madeiro, para que, mortos para os pecados, pudéssemos viver para a justiça; e pelas suas feridas fostes sarados. Porque éreis como ovelhas desgarradas; mas agora tendes voltado ao Pastor e Bispo das vossas almas”. I Pedro 2:24-25.

Salvo por Jesus Cristo, tenho perfeita paz;
A comunhão com ele toda aflição desfaz.
Ele me deu certeza da minha salvação,
Que de inefável gozo enche meu coração.
Salvo por Jesus Cristo, tenho perfeita paz;
A comunhão com ele toda aflição desfaz.
Cristo é a minha vida, fonte de doce amor;
Ele me tira a mágoa, todo o pesar e a dor.
E se sofrer a prova, mui fácil me será;
Quando verter o pranto, logo Ele o enxugará.
Salvo por Jesus Cristo, tenho perfeita paz;
A comunhão com ele toda aflição desfaz.
E passarei a noite com Ele, sem temor,
Te que amanheça o dia de perenal fulgor.
Magnificente e santo vê-Lo-ei a me fitar,
E na mansão de glória vou com Jesus reinar!
Salvo por Jesus Cristo, tenho perfeita paz;
A comunhão com ele toda aflição desfaz.

SALVO, Cantor Cristão – 374.

Published inDefinição de doutrina – Volume 2