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Capítulo 17: Santificação

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Se qualquer defesa for necessária para escrever sobre os assuntos que estamos tratando nesta presente série de artigos, é bastante dizer que tratam do relacionamento do homem com Deus. O homem secular vai logo reclamar que tais artigos não são práticos nem úteis, visto que não tratam diretamente sobre política, economia e outras ciências sociais. Talvez se argumente que não estejamos contribuindo em nada na resolução dos problemas que chocam os políticos do mundo inteiro. Os relacionamentos humanos, quer no nível individual ou coletivo, são aceitos, em geral, como sendo muito importantes e não ignoramos nem negamos tal fato. As grandes indústrias possuem suas agências de relações públicas. Os governos possuem agências que tratam sobre relações estrangeiras e nacionais. E, como cada homem tem que tratar com Deus, o Criador e Legislador, é de suma importância que tenha um relacionamento certo com Ele. Ignorar ou negar isto é agir de modo fatal. Cada homem tem que sofrer uma mudança de atitude em relação a Deus, do contrário sofrerá conseqüências eternas e fatais.

A apresentação correta de qualquer doutrina bíblica se encontra, em grande parte, na definição correta de seus termos. Muitos dos falsos ensinos, tão rampantes hoje em dia, começaram com definições incorretas de palavras da Bíblia. Isto é particularmente verdade em relação à doutrina da santificação. Se aceitarmos a definição da palavra dada pelas igrejas pentecostais e renovadas, então teremos que aceitar o que ensinam sobre o assunto.

A fim de achar o significado verdadeiro das palavras bíblicas, devemos nos lembrar que os dicionários humanos não determinam, porém simplesmente registram o significado das palavras de acordo com o uso atual. Isto explica porque o dicionário Aurélio e outros definem batismo como a ato de imergir, derramamento e aspersão. Estes homens não professam ser teólogos, e a definição deles simplesmente reflete as opiniões de teólogos reconhecidos, cujas opiniões diferem entre si. Já se observou que algumas denominações mergulham ou imergem e chamam este ato, batismo; ao passo outras igrejas jogam (derramar) ou salpicam (aspergir) água sobre a cabeça e chamam este ato de batismo também. Assim, define-se batismo como qualquer um destes atos. As doutrinas bíblicas não podem ser estabelecidas através de dicionários humanos. Temos que tirar as definições das palavras bíblicas da própria Bíblia. Devemos observar:

ALGUMAS OPINIÕES ERRÔNEAS E INADEQUADAS SOBRE A SANTIFICAÇÃO

1. A opinião que a santificação é simplesmente uma obra progressiva da graça na alma. Esta é apenas uma explicação parcial da doutrina. Ela cobre somente um aspecto da doutrina. Ela ignora o lado objetivo da santificação e a torna unicamente uma experiência subjetiva na qual o crente cresce em graça. A santificação é objetiva e também subjetiva, posicional e também experimental.

2. A opinião que a santificação é uma bênção, apenas para alguns crentes – a marca de um crente maduro. Esta opinião faz uma distinção entre o crente comum e os que são mais consagrados e tementes a Deus. Porém, o fato é, que cada pessoa nascida de novo é um santo. Todos os salvos são santificados. A santificação, como também a justificação, é pela fé no Senhor Jesus Cristo (Atos 26:18). Paulo escreveu aos crentes carnais em Corinto, chamando-os santos, isto é; pessoas santificadas.

3. A idéia de que a santificação é uma segunda obra da graça, na qual o pecado é erradicado da alma. Isto torna a santificação subseqüente à justificação, bênção que talvez se perca, a menos que a segunda bênção da santificação seja recebida. Isto iria contra a Bíblia que diz que os justificados já estão (no propósito de Deus) glorificados (Romanos 8:30).

4. A opinião católica romana que ninguém é santificado até após a morte quando a igreja, através de uma cerimônia dolorosa e cheia de tédio, canoniza a pessoa, baseando-se no mérito pessoal dela. De acordo com esta opinião não existem santos vivos. Como resposta, é suficiente dizer que Paulo escreveu a pessoas vivas, referindo-se a elas como santos.

O QUE A BÍBLIA ENSINA

Vamos deixar claro que as palavras santo, santuário, santidade e santificação vêm da mesma palavra primitiva que significa “separar” ou “fazer passar sobre”. Quando comparamos Êxodo 13:2 com Êxodo 13:12 podemos obter o significado bíblico da palavra santificar. Em Êxodo 13:2 Deus diz: “Santifica-me todo o primogênito, o que abrir toda a madre entre os filhos de Israel, de homens e de animais; porque meu é”. No versículo 12, a ordem é repetida, porém, ao invés da palavra santificar, usam-se as palavras: “Separarás para o SENHOR tudo o que abrir a madre e todo o primogênito dos animais que tiveres; os machos serão do SENHOR”. O significado é separar de e para, ou “fazer passar sobre”. O primogênito israelita era separado dos outros filhos em casa e considerado como propriedade peculiar do Senhor, tendo como base que o anjo da morte passara por sobre a casa, poupando-o do destino dos primogênitos egípcios.

Não há elemento moral nenhum implícito na palavra santificação e assim é usada tanto para pessoas quanto para coisas. Vemos que os vasos, animais e um monte (coisas sem valor moral) são chamados santificados. Simplesmente eram separados do uso de alguém para serem usados em outra coisa. Isaías fala dos idólatras como se eles se auto-santifiassem, o que significa que eles mesmos se separaram da verdadeira congregação de Israel, a fim de se ocuparem numa adoração idólatra. (Isaías 66:17).

A palavra santificação também não implica nenhuma mudança interna na pessoa ou coisa santificada. O Monte Sinai foi santificado (Êxodo 19:23), mas não houve nele nenhuma mudança interna; o solo e os minerais continuaram iguais a antes. Jeremias foi santificado antes de nascer, o que exclui a idéia da qualquer mudança interna. Nosso Senhor foi santificado (João 10:36, 17:19) e isto elimina a idéia da erradicação de uma natureza pecaminosa na santificação, pois sempre foi sem pecado (imaculado).

SANTIFICAÇÃO DE PESSOAS

A santificação de pessoas envolve a questão da moral, porque os homens são seres morais. Há um aspecto da santificação o qual, ao se completar, será a erradicação da natureza pecaminosa e consistirá de santidade pessoal. Os vários aspectos da santificação não devem ser confundidos, mas claramente distinguidos. A Bíblia fala da santificação pelo sangue de Cristo, pelo Espírito Santo, pela Palavra de Deus e pelo Pai.

SANTIFICAÇÃO PELO SANGUE

Em Hebreus 10:10 lemos que nossa santificação é pela vontade de Deus, através da oferta do corpo de Cristo, de uma vez por todas. A mesma verdade nos é apresentada em Hebreus 13:12: “E por isso também Jesus, para santificar o povo pelo seu sangue, padeceu fora da porta”. Notamos três coisas sobre este aspecto da santificação.

1. É posicional ou objetiva. As referências bíblicas acima expressam o que o crente é diante de Deus pela virtude do sangue de Cristo. É a santidade imputada, pois Cristo “para nós foi feito por Deus sabedoria, e justiça, e santificação, e redenção” (I Coríntios 1:30). Assim, é bíblico se falar da justiça imputada.

2. É eterna. “Porque com uma só oblação aperfeiçoou para sempre os que são santificados” (Hebreus 10:14). Em Cristo, o crente é santo para sempre. Em Cristo, ele é eternamente perfeito.

3. É absoluta. Em Cristo, somos absolutamente santos. Tão santos quanto Ele o é. Este aspecto da santificação não é gradual nem relativo, porém absoluto e eterno. Se Cristo é nossa santidade, então somos tão santos quanto Ele é. Quão precioso isto torna o sangue de Cristo ao crente!

A SANTIFICAÇÃO PELO ESPÍRITO SANTO

É interna e experimental, na qual o crente é separado do mundo para Deus. Paulo agradece a Deus pelos tessalonicenses “por vos ter Deus elegido desde o princípio para a salvação, em santificação do espírito, e fé da verdade” (I Tessalonicenses 2:13). Pedro escreveu aos que são “eleitos segundo a presciência de Deus Pai, em santificação do espírito, para a obediência e aspersão do sangue do sangue de Jesus Cristo” (I Pedro 1:2).

A salvação, no sentido da conversão, é obra do Espírito Santo. É a obra inicial da graça e não uma segunda bênção. Será seguida de bênção após bênção. Paulo expressa a confiança de que “aquele que em vós começou a boa obra a aperfeiçoará até ao dia de Jesus Cristo” (Filipenses 1:6). O Espírito Santo convence do pecado e leva a pessoa à fé em Cristo. E Ele mantém na fé aqueles que gerou para a fé. Não existem projetos abandonados na obra da graça de Deus.

A SANTIFICAÇÃO PELA PALAVRA

É uma santificação prática e pessoal e tem a ver com nosso andar diário. Ao orar pelos discípulos, o Senhor Jesus disse: “Santifica-os na tua verdade; a tua palavra é a verdade” (João 17:17). A Palavra de Deus tem uma influência separadora na vida do crente. Se a Palavra tiver muito espaço em nossa vida, o pecado terá, proporcionalmente, um espaço menor. E um desejo crescente pela Palavra significa um desejo decrescente pelo mundo. O pecado nos afastará da Palavra ou a Palavra nos afastará do pecado. Certa senhora elogiava uma amiga por causa do seu conhecimento da Bíblia: “Daria o mundo para saber tudo quanto você sabe das Escrituras”. A amiga replicou: “Bem, foi este exatamente o preço que me custou”.

A santificação pela Palavra também é progressiva. Crescemos na santidade pessoal ao nos alimentar da Palavra: “Desejai afetuosamente, como meninos novamente nascidos, o leite racional, não falsificado, para que por ele vades crescendo” (I Pedro 2:2). Quando examinamos o pouco tempo em que o crente, em geral, alimenta sua alma na Palavra de Deus, não nos surpreendemos ao vê-los como “anões” espirituais; crentes que nunca alcançaram a maturidade! A santificação é uma obra divina e uma obrigação humana. O crente não tem força própria para viver de modo santo, e pensar que tem é altamente presunçoso e revela um espírito de justiça própria. Por outro lado, negar a obrigação de um viver santo é justificar um viver pecaminoso.

Há uma analogia íntima entre uma boa saúde física e boa saúde espiritual, ou entre uma saúde boa num homem considerado como ser físico e como ser moral. Há três coisas essenciais em cada caso.

1. É preciso haver comida saudável. A saúde física pode ser prejudicada pelo que se come. Temos leis que regem os alimentos saudáveis, para nossa proteção. Mas, apesar disto, muita gente faz do estômago uma lata de lixo ao se alimentar de modo errado. Precisamos saber como nos alimentar e do que nos alimentar. Muitos teriam mais saúde se mastigassem os alimentos. Eles apenas os engolem. Não usam os dentes, mas tentam fazer o estômago agir como se fossem os dentes. Do mesmo modo, deve haver alimento saudável para a alma, se o crente quiser ter uma boa saúde espiritual. O alimento do crente é o que ele coloca na mente; é o que ele lê, e ouve e olha. Há muito alimento mental servido aos crentes que prejudica sua saúde espiritual. O crente tem que evitar a literatura suja, sem valor e lasciva, despejada constantemente pela imprensa, numa abundância chocante, do mesmo modo como deve evitar veneno para o corpo. O alimento adequado para o crente é a Bíblia e livros e revistas que seguem o ela ensina.

2. Outro fator essencial para se ter uma boa saúde é o exercício adequado. O melhor exercício é aquele que usa todos os membros do corpo. Cada membro tem seus próprios músculos, os quais devem ser usados, de outro modo, se tornarão fracos e flácidos. Coloque o braço numa tipóia e o deixe lá mês após mês, sem nunca exercitá-lo, sem nunca usá-lo, e após algum tempo ele se tornará inútil. Mande colocar gesso numa perna e o deixe lá uns seis meses e verá que nem poderá movê-la, muito menos andar.

O exercício espiritual é tão essencial para a saúde da alma quanto o exercício físico é para o corpo. Os músculos espirituais também podem se tornar fracos e flácidos. A força que recebemos do maná espiritual deve ser usada. Devemos exercitar nossos dons espirituais fazendo o bem. Fomos criados em Jesus Cristo, com o propósito de fazermos boas obras. (Efésios 2:10) É preciso testemunhar ao perdido, visitar o enfermo, confortar o aflito. Falar de Cristo aos outros O fará mais precioso ao nosso coração. Testemunhar aos outros sobre Cristo é o melhor tônico para um sentimento de cansaço espiritual. Podemos erguer a nós mesmos e sairmos da depressão ao erguermos os outros. Salvamos nossa vida, perdendo-a por amor de Cristo, ao servir aos outros.

3. Um terceiro fator essencial à boa saúde é o tipo certo de atmosfera. Precisamos de oxigênio para respirar. Há pessoas que não gozam saúde se morarem em lugares baixos, onde o ar é muito úmido e pesado. Também há pessoas que não gozam de saúde se morarem em lugares altos, onde o ar é muito leve, não há bastante oxigênio. O clima e a atmosfera devem ser levados em consideração, no que diz em respeito à saúde física.

Também temos que respirar a atmosfera correta, se quisermos gozar de boa saúde espiritual. Temos que ter o ambiente adequado. Isto tem a ver com as pessoas com quem nos associamos. Não devemos ter nenhuma comunhão com “as obras infrutíferas das trevas” (Efésios 5:11). “As más conversações corrompem os bons costumes” (I Coríntios 15:33). “Bem-aventurado o homem que não anda segundo o conselho dos ímpios” (Salmo 1:1), isto é; que não segue os conselhos daqueles que odeiam a Deus. Ele “não se detém no caminho dos pecadores” (Salmo 1:1), o que significa que não é cúmplice do que fazem. Nem também “se assenta na roda dos escarnecedores” (Salmo 1:1), isto é; o homem bem-aventurado não se mistura com aqueles que zombam das coisas santas.

O crente está no mundo, mas não é do mundo. Ele não deve evitar o contato físico com o mundo, mas não deve ter comunhão moral.

A santificação pessoal completa, no sentido de perfeição impecável, é um objetivo a ser alcançado e não uma realidade a ser vangloriada. A regeneração pode ser chamada de crise da doença do pecado. A santificação é o progresso da convalescença. Viver na verdade da doutrina gloriosa da santificação manterá o crente humilde, feliz, esperançoso e útil em sua jornada até a glória. “E o mesmo Deus de paz vos santifique em tudo; e todo o vosso espírito, e alma, e corpo, sejam plenamente conservados irrepreensíveis para a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo. Fiel é o que vos chama, o qual também o fará” (I Tessalonicenses 5:23-24.

 

Published inDefinição de doutrina – Volume 2