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Todas as graças da caridade são interligadas

O amor bíblico e seus frutos – Exposição de 1 Coríntios 13 – Capítulo 13

“O amor…tudo crê, tudo espera” (I Coríntios 13: 7)

Assim como na frase anterior, nós precisamos entender qual é o assunto que o apóstolo está abordando. Muitos pensam que ele está dizendo que a caridade acredita no melhor, e espera o melhor, no que diz respeito ao seu próximo. Entretanto, ele já tratou deste assunto no verso 5, quando disse: o amor não suspeita mal. Ele terminou de abordar o assunto sobre os frutos da caridade para com o próximo no verso 6, ao resumi-lo nestas palavras: o amor… não folga com a injustiça, mas folga com a verdade. Ele menciona em nosso texto a mesma tríade de graças repetidas novamente no verso 13- fé, esperança e amor. Tudo neste capítulo está direcionado a mostrar a relação entre a caridade e as outras graças. Por esta razão, eu utilizo estas duas frases para melhor compreensão do assunto, ou seja: a caridade promove o exercício de todas as graças, especialmente a graça da fé e da esperança. Ou, em outras palavras, todas as graças do Cristianismo autêntico estão interligadas, sendo totalmente dependente umas das outras. Como num elo de correntes, todas se interligam. Se uma se rompe, todas caem por terra.

I. COMO TODAS AS GRAÇAS CRISTÃS ESTÃO INTERLIGADAS.

Todas as graças Cristãs caminham sempre juntas. Onde uma está, todas estão. Onde uma não está, as demais também não estão. Por exemplo: I João nos fala que o amor aos irmãos é uma prova do nosso amor a Deus, e, por outro lado, o amor a Deus é uma prova do nosso amor aos irmãos. Se alguém diz: Eu amo a Deus, e odeia a seu irmão, é mentiroso. Pois quem não ama a seu irmão, ao qual viu, como pode amar a Deus, a quem não viu?… Nisto conhecemos que amamos os filhos de Deus, quando amamos a Deus e guardamos os seus mandamentos (4: 20; 5: 2).

Todas as graças Cristãs dependem umas das outras. Por exemplo, a fé promove o amor, e não podemos amar alguém cuja existência duvidamos. No entanto, o amor é o ingrediente mais eficaz da fé viva; pois somos mais parecidos com alguém a quem amamos do que com alguém a quem não amamos. Da mesma maneira, o amor produz esperança, e a esperança fortalece a fé. Além disso, o amor tende a ser esperançoso, e a esperança promove o amor. A fé promove a humildade, e a humildade serve a fé. O amor e a humildade promovem um ao outro. O amor se inclina ao arrependimento. Arrependimento, fé, e amor, todos tendem a ser agradecidos. E assim caminhamos em todas as graças Cristãs.

Cada graça Cristã implica de alguma maneira em outra. A fé implica em humildade, pois não podemos conceber uma fé orgulhosa. A fé implica no amor: a fé…que opera pelo amor (Gálatas 5: 6). A fé e o arrependimento implicam um no outro, pois eles descrevem o mesmo ato da alma em dar as costas ao pecado e voltar-se para Cristo. O temor de Deus implica em amor, pois não falamos de um amor escravizador, mas um temor filial. Perceba como a paciência está implícita em muitas das graças! Novamente, nós poderíamos multiplicar os exemplos quase que infinitamente.

II. PORQUE AS GRAÇAS CRISTÃS ESTÃO ASSIM INTERLIGADAS.

Todas procedem da mesma fonte. Há diversidade de operações, mas é o mesmo Deus que opera tudo em todos (I Coríntios 12: 6). Assim como todo o espectro de cores procede de um único raio de luz, assim também todas as graças procedem do mesmo Espírito Santo de Deus. As diferenças entre elas, embora tenham diferentes nomes, são mais relativas do que absolutas, mais em relação aos seus vários objetos e modos de exercício, do que uma real diferença em sua natureza abstrata.

Elas são comunicadas por meio da mesma obra do espírito Santo, ou seja, a conversão. Não há uma conversão da alma para a fé, outra ao amor de Deus, outra ao amor aos homens, outra à humildade, e outra ao arrependimento. Todas as graças nos são concedidas na regeneração. Nisto, o nascimento espiritual é semelhante ao físico, ou seja, nós recebemos todas as nossas faculdades como a da visão, audição, paladar, e tato, de uma só vez e em um nascimento.

Todas possuem uma mesma raiz e fundamento, a saber, o conhecimento da excelência de Deus. Uma visão genuína de Deus gera todas as graças, tais como a fé, o arrependimento, o amor, a esperança, e etc. Se realmente conhecemos a natureza de Deus, então iremos amar, confiar, e nos submeter a Ele.

Todas possuem a mesma regra, ou seja, a Lei de Deus. Aquele que possui um respeito genuíno por um dos mandamentos de Deus, na verdade respeita todos os demais. Todos foram estabelecidos sob a mesma autoridade e refletem a mesma natureza santa de Deus. Da mesma maneira, desrespeitar um dos mandamentos é como quebrar toda a Lei, não importando quantos pontos você obedeça (Tiago 2: 10).

Todas apontam para um mesmo fim, ou seja, o próprio Deus. Elas não somente brotam, permanecem, e vão de encontro a Deus, mas também apontam para Ele. A sua glória e a nossa felicidade nEle é o objetivo final de todas as graças. Isso mostra o quanto elas estão intimamente relacionadas.

Todas estão relacionadas a uma mesma graça, sendo esta a suma de todas, ou seja, o amor. Nós tratamos sobre isso no capítulo um. Não importa quão diferente sejam seus nomes, e nem quão diferente sejam os modos como são exercidas, pois todas se convergem num mesmo amor. O amor é o cumprimento de todas elas. Esta é outra razão pela qual todas as graças estão interligadas.

Vamos nos esforçar para fazermos uma aplicação prática desta verdade.

I. A CONECÇÃO DE TODAS AS GRAÇAS DEVERIA AJUDAR O NOSSO ENTENDIMENTO A COMPREENDER QUE AS COISAS VELHAS JÁ PASSARAM E TUDO SE FEZ NOVO NA CONVERSÃO.

Isso é o que o apóstolo fala em II Coríntios 5: 17. Assim que, se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo. Todas as graças do Cristianismo são compartilhadas em alguma medida na conversão. O verdadeiro Cristão, no momento da sua conversão, passa a possuir todas as disposições oriundas da graça. Elas podem ser fracas, mas ainda assim estão presentes, como num bebê cujas partes e poderes estão presentes, ainda que de forma frágil. Há muitas graças em cada Cristão assim como houve no próprio Jesus Cristo, e por isso o apóstolo João escreve: E todos nós recebemos também da sua plenitude, e graça por graça (João 1: 16). E vos vestistes do novo, que se renova para o conhecimento, segundo a imagem daquele que o criou (Colossenses 3: 10). Antes da conversão, não possuíamos graça alguma, mas depois passamos a possuir todas, ainda que de forma imperfeita. Talvez seja por isso que nos é dito que agora somos novas criaturas em Cristo Jesus, e não que passamos a ter novos olhos ou novos ouvidos.

Segue-se, então, que toda corrupção no Cristão está mortificada, ainda que em uma medida imperfeita. Para cada pecado existe uma graça para combatê-lo. A fé mortifica a incredulidade e o amor a inimizade. A humildade mortifica o orgulho, e a mansidão a vingança, e assim por diante. Todas as coisas velhas passaram, embora de maneira imperfeita nesta terra; e tudo se fez novo, embora de forma ainda imperfeita. Assim, podemos ver que grande obra e que grande mudança é a conversão.

II. PODEMOS TESTAR A NOSSA ESPERANÇA DE SALVAÇÃO AO TESTAR UMA GRAÇA COM OUTRA.

Se você professa ter recebido a Cristo pela fé, então você deveria testar se a sua fé foi acompanhada pelo arrependimento e pela humildade. Ou você veio a Cristo com orgulho, espírito farisaico, e apresentando a sua própria bondade? O amor acompanhou sua fé?

Por outro lado, você professa amar a Cristo. Mas a sua fé veio acompanhada do seu amor? Você abraçou a convicção de que Cristo é o verdadeiro Filho de Deus, o único, glorioso, e todo suficiente Salvador? Se não, o seu amor a Cristo não é melhor do que o amor fictício dedicado a algum personagem de novela.

Você confessa possuir a graça da esperança? A fé a acompanha? A sua esperança está fundamentada na convicção da verdade a respeito de Cristo, Sua dignidade e absolutamente mais nada? A sua esperança inclui a humildade, ou você se orgulha da sua própria esperança? A falsa esperança ilude o coração e o conduz a desobediência.

Você professa amor a Deus. Mas isso também deve ser testado pelas outras graças. O seu amor pelo mundo diminuiu simplesmente por causa de alguma aflição externa (doença) que o impede de desfrutar mais dele? Talvez o seu amor a Deus seja fruto de alguma perturbação da consciência, que faz com que você se afaste temporariamente do mundo, mas no fundo, ainda reside o desejo de voltar para ele. Ou você realmente não ama mais as coisas deste mundo porque algo muito maior e muito melhor capturou o seu coração?

Você pode testar mais profundamente o seu amor a Deus através do amor aos irmãos. Quantas pessoas professam amar a Deus, mas são completamente destituídas de qualquer disposição piedosa para com os homens? E quantos aparentam ser gentis, generosos e bons para com os homens e, no entanto, não possuem qualquer disposição para com Deus? A falsa graça é como um trabalho de arte imperfeito, cuja parte essencial está faltando. Usando outro exemplo, Deus se queixa de Efraim dizendo que Ele era como um bolo que não foi virado (Oséias 7: 8), isto é, assou de um lado, porém o outro ainda está cru, e não serve para nada. Devemos cuidadosamente evitar este tipo de caráter tão dúbio, sendo consistentes, equilibrados, e crescendo em cada graça na medida da estatura completa de Cristo (Efésios 4: 13).

Published inO amor bíblico e seus frutosVida cristã