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O espírito da caridade é um espírito humilde

O amor bíblico e seus frutos – Exposição de 1 Coríntios 13 – Capítulo 7

“O amor não trata com leviandade, não se ensoberbece, não se porta com indecência.” I Coríntios 13: 4-5.

O estudo anterior tratou de como o espírito da caridade se comporta ao ver a prosperidade de outras pessoas. O texto acima nos mostra como um espírito de caridade se comporta em relação aos próprios bens. Assim como o amor Cristão nos previne contra qualquer sentimento de inveja, ele também nos guarda de vangloriar-nos de qualquer coisa que possuímos. O amor Cristão nos ensina como devemos nos conduzir, e isso sempre da forma mais adequada, quer estejamos acima ou abaixo de qualquer pessoa. Naturalmente, este princípio não trata apenas com as nossas ações, mas com todas as nossas disposições interiores. A doutrina aqui ensinada nos diz que a caridade não é orgulhosa, mas sim humilde.

I. O QUE É HUMILDADE.

A humildade pode ser definida como um hábito da mente e do coração no que corresponde a nossa indignidade e vileza diante de Deus, ou nossa inferioridade comparada a Sua grandeza, tudo isso demonstrado através do nosso comportamento.

Devemos ter o senso da nossa indignidade relativa. Dizemos indignidade relativa porque a humildade é uma graça apropriada a todas as criaturas, sendo estas gloriosas e excelentes em muitos aspectos. Os espíritos glorificados no céu estão libertos dos pecados, mas ainda assim tem muitos motivos para serem humildes diante do Deus Todo-Poderoso. Deus mesmo não é humilde, pois isso implicaria em alguma imperfeição da Sua parte. Nem o orgulho e nem a humildade fazem parte dos seus atributos. A Humilhação do Filho de Deus é referente à sua encarnação, e à Sua natureza humana em particular. A humildade é uma excelência apropriada a todas as criaturas, sendo estas caídas ou não.

A humildade consiste principalmente em um senso da infinita distância entre Deus e nós mesmos. Somos criaturas pequenas e desprezíveis, comparadas aos vermes do pó. Quando comparados a Deus, deveríamos nos considerar como nada, ou menos do que nada. Em um momento muito especial de intercessão, Abraão lembrou-se de qual era a sua posição diante de Deus ao dizer: Eis que agora me atrevi a falar ao Senhor, ainda que sou pó e cinza (Gênesis 18: 27). Este tipo de espírito é essencial à verdadeira humildade. Podemos até demonstrar certa humildade diante de algumas pessoas e ainda sermos orgulhosos diante de Deus. Por isso, muitas pessoas por causa de interesses e circunstâncias terrenas se mostram humildes, mas, no entanto, são totalmente vazias da verdadeira graça da humildade.

Quando nos comparamos com muitas pessoas ao nosso redor, nós temos muitos motivos para sermos humildes. Mas para tal humildade ser verdadeira, ela deverá proceder de um senso correto quanto à nossa indignidade diante de Deus. Quando admitimos a nossa verdadeira posição diante do Criador, isso nos ajuda a assumir o nosso lugar apropriado diante dos homens. Mesmo antes do pecado fazer parte da raça humana, a humildade já era uma virtude. Adão era consciente da sua pequenez, fraqueza, dependência, e submissão a Deus. E isso o guardaria de ser orgulhoso diante das demais criaturas. Desde a queda de Adão, temos motivos muito maiores para sermos humildes. Agora, não somente somos naturalmente vis, como também moralmente. Somos piores do que as demais criaturas, pois somos impiamente vis e imundos. E isso é o que faz com que a nossa consciência nos condene diante de Deus, e nos leve ao reconhecimento da distância moral que existe entre Ele e nós. Ele é sublime e santo, mas nós somos vis e maus. Ao reconhecer esta verdade Isaías exclamou: “Ai de mim! (Isaías 6: 5). Jó abominou a si mesmo (Jó 42: 6). Para tais almas nosso Senhor pronuncia a benção da primeira das Bem-aventuranças dizendo: “Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus” (Mateus 5: 3). Nós precisamos ter em vista, não somente a grandeza de Deus, mas também a Sua graciosidade e beleza. Os anjos caídos conhecem a primeira parte, mas desconhecem a segunda. Devemos reconhecer quão indignos somos da sua bondade e graça. Assim como Jacó, devemos confessar: “Menor sou eu que todas as beneficências, e que toda a fidelidade que fizeste ao teu servo” (Gênesis 32: 10). Quem sou eu, Senhor DEUS, e qual é a minha casa, para que me tenhas trazido até aqui? (II Samuel 7: 18).

Nós devemos ter a disposição de vivermos segundo aquilo que aprendemos acerca da nossa própria baixeza.

Este é um teste ácido de humildade. Nós apenas temos um senso da nossa própria baixeza, ou realmente demonstramos na prática isso, fazendo com que o nosso comportamento seja compatível com a verdadeira humildade?

Com relação a nossa conduta para com Deus, a humildade nos leva:

– A admitir de livre e espontânea vontade a nossa pequenez. A alma humilde se deleita em confessar a sua indignidade.

– A não confiar em nós mesmos e depender totalmente de Deus. O orgulhoso ama a auto-suficiência, mas o humilde tem prazer em buscar refúgio somente em Deus.

– A renunciar a honra por qualquer bem que façamos, passando-a para Deus, que é o único verdadeiramente digno de recebê-la. Não a nós, SENHOR, não a nós, mas ao teu nome dá glória, por amor da tua benignidade e da tua verdade (Salmo 115: 1).

– A nos submetermos totalmente a Deus. Sabendo que somos tão inferiores a Ele, então é apropriado que nos coloquemos sob o Seu governo. Estamos à Sua disposição todos os dias. O pior que venhamos a receber das Suas mãos, ainda é melhor do que aquilo que realmente merecemos. Ainda que ele me mate, nele esperarei (Jó 13: 15).

No que diz respeito à nossa conduta para com os homens, a humildade nos previne quanto a:

– Um comportamento que aspira a ambição. A humildade produz contentamento em qualquer tipo de situação. Não ambicionamos as coisas altas (Romanos 12: 16).

– Um comportamento que demonstre ostentação. Se tivermos algumas vantagens, não seremos extravagantes nem exibidos. Não faremos um desfile a fim de mostrar nossos dons e experiências. O orgulho fazia com que os Fariseus fizessem todas as obras a fim de serem vistos pelos homens (Mateus 23: 5). Mas a humildade diz: a mim mui pouco se me dá de ser julgado por vós (I Coríntios 4: 3).

– Um comportamento arrogante e presumido. Não esperamos ser tratados como superiores, antes damos a outrem a preferência. Cada um considere os outros superiores a si mesmo, nós somos o mínimo de todos os santos (Filipenses 2: 3; Efésios 3: 8).

– Um comportamento escarnecedor. O que poderia ser mais ofensivo do que tratar os outros com desprezo sarcástico e orgulho? Há muitas maneiras de exaltar a nós mesmos e rebaixar a outros, mas a humildade nos capacita a “nos acomodarmos às coisas humildes” (Romanos 12: 16), a despeito de quão grande pareçamos ser.

– Um comportamento obstinado e teimoso. Não iremos insistir em nossos planos ou vontade. A humildade faz com que busquemos a paz com todos, a não ser que tenhamos que violar a verdade e santidade. O princípio aqui também é citado em I Coríntios 6: 7 através destas perguntas: Por que não sofreis antes a injustiça? Por que não sofreis antes o dano?

– Um comportamento nivelador, ou seja, insistir em rebaixar aqueles que estão acima de nós. Ao invés disso, nós entendemos que Deus tem determinado vários níveis na sociedade, e estaremos dispostos a dar a cada um o que deveis: a quem tributo, tributo; a quem imposto, imposto; a quem temor, temor; a quem honra, honra (Romanos 13: 7).

– Um comportamento que se auto-justifica. Antes, estaremos dispostos a reconhecer nossas faltas e nos envergonharmos. O que, exceto o orgulho, nos impede de confessar as nossas faltas uns aos outros (Tiago 5: 16), ou de sermos agradecidos por alguma exortação? Fira-me o justo, será isso uma benignidade; e repreenda-me, será um excelente óleo, que não me quebrará a cabeça (Salmo 141: 5).

II. COMO O ESPÍRITO DA CARIDADE SE MOSTRA UM ESPÍRITO HUMILDE.

A caridade implica e tende a humildade.

A caridade implica em humildade, pois o amor Cristão é um amor humilde. O amor que não é humilde não é um amor divino. Como observamos anteriormente, é a benignidade de Deus que faz com que a alma se prostre total e humildemente diante dEle. Devemos ter uma apreciação não somente pela sua grandeza, mas também por sua bondade. Sem esta última, podemos ser convencidos do grande perigo em que estamos diante de Deus, mas não seremos convencidos do quanto o ofendemos. Os anjos e homens perdidos podem sentir a larga distância que existe entre eles e Deus, mas não são humilhados por isso.

Mas quando compreendemos a sua benignidade, então nos humilhamos, pois reconhecemos o que somos, e quem Deus é.

A caridade implica em humildade em que, quando Deus é verdadeiramente amado, então Ele é amado como sendo infinitamente superior. Não podemos amá-Lo como um igual, mas com amor humilde reconhecemos o quanto somos inferiores a Ele.

A caridade tende a humildade. A humildade não é somente uma qualidade inerente do amor, mas um efeito do mesmo. O amor inclina o coração a um espírito e comportamento que mantém a distância adequada daquele a quem amamos. Aqueles a quem amamos, desejamos que sejam honrados acima de nós. As criaturas caídas se recusam a honrar a Deus, e desprezam o fato de existir uma distância entre eles e Deus. Mas quando o amor Cristão entra no coração, então somos inclinados a respeitar humildemente os benefícios da distância existente entre nós e Deus. Da mesma forma, o amor aos homens, que é fruto do amor a Deus, faz com que o nosso comportamento com as outras pessoas seja realmente humilde.

Além disso, o amor a Deus nos leva a odiar qualquer pecado cometido contra Ele. Na mesma extensão que amamos qualquer coisa, também odiaremos o que for contrário a ela. Se amamos a Deus, devemos odiar o pecado, como também a nós mesmos por causa do pecado.Fazendo isso, estaremos humilhando a nós mesmos diante do nosso grande, santo, e bendito Deus.

O evangelho tende a incentivar tais exercícios de amor, especialmente aqueles que implicam e tendem a humildade.

O evangelho nos leva a amar a Deus como sendo um Deus infinitamente digno. Quão longe Ele foi para que pudesse graciosamente interceder a favor de pobres criaturas, vermes do pó, ao enviar seu precioso Filho para morrer por nós, a fim de que pudéssemos ser perdoados e desfrutarmos da sua presença para sempre! A resposta mais adequada da nossa parte para tamanha condescendência é a total humildade.

O evangelho nos leva a amar a Cristo como uma Pessoa humilde. Se entendemos que Cristo é tanto homem quanto Deus, então sabemos que Ele é condescendente e humilde. Humildade esta nunca vista em ninguém. Ele é humilde e manso de coração (Mateus 11: 29). Ele humilhou-se a si mesmo, tornando-se obediente até a morte (Filipenses 2: 8). Já que Ele é um Mestre humilde para nós, então devemos nos humilhar diante dEle, para que o servo não esteja acima do seu senhor (Mateus 10: 24). Aquele que se abaixou para lavar os pés dos seus discípulos, nos diz: Não será assim entre vós; mas todo aquele que quiser entre vós fazer-se grande seja vosso serviçal;

E, qualquer que entre vós quiser ser o primeiro, seja vosso servo;

Bem como o Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir, e para dar a sua vida em resgate de muitos (Mateus 20: 26-28).

O amor nos leva a amar a Cristo como o Salvador crucificado. Embora Ele seja o Senhor da glória, foi grandemente desprezado e envergonhado em sua morte. Qual o efeito que esta verdade deveria provocar em nossos corações, a não ser um espírito humilde e um completo desprezo por todo tipo de orgulho. Se realmente somos discípulos daquele que é manso e humilde de coração, então deveríamos caminhar humildemente diante de Deus e dos homens todos os dias da nossa vida.

O evangelho nos leva a amar a Cristo como Aquele que foi crucificado pelos nossos pecados. A sua morte, causada pelas nossas transgressões, deveria nos levar a odiar o pecado veementemente, a amar a Deus acima de tudo, e a termos uma postura humilde diante dEle. Que estímulo maior a humildade poderia nos dar? Por Ele ter tomado a cruz em nosso lugar, nós deveríamos ver nisso todo incentivo a humildade, por causa da nossa impiedade, que contrasta com a Sua benignidade.

Vamos fazer algumas breves aplicações destas verdades.

I. CONSIDERE A EXCELÊNCIA DO ESPÍRITO CRISTÃO.

Muito daquilo que chamamos de excelência na vida do justo, é na verdade o reflexo daquela humildade que vemos em Cristo. A Bíblia fala disso como sendo algo de muito valor, ou seja, o incorruptível traje de um espírito manso e quieto, que é precioso diante de Deus (I Pedro 3: 4).

II. EXAMINE O SEU ESPÍRITO, VERIFICANDO SE ELE É REALMENTE HUMILDE.

Há muitas falsificações. Por exemplo:

– Alguns fingem ser humildes

– Alguns são naturalmente tímidos ou sem personalidade forte

– Alguns são desanimados

– Alguns são convencidos momentaneamente de algum pecado específico.

– Alguns ficam abatidos diante de algumas provações

– Alguns são simplesmente enganados por satanás

Portanto, esteja certo de que a sua humildade é realmente genuína, como ensinada e demonstrada nos evangelhos, e também ensinada pelo Espírito Santo. Este é um assunto vital, pois Deus resiste aos soberbos, mas dá graça aos humildes (Tiago 4: 6).

III. SE VOCE AINDA NÃO CONHECE A GRAÇA SALVADORA, BUSQUE CONHECÊ-LA, POIS SÓ ASSIM PODERÁ ALCANÇAR ESTE EXCELENTE ESPÍRITO DE HUMILDADE.

Fora de Cristo, somos orgulhosos contra Deus, e totalmente destituídos de qualquer humildade verdadeira, não importando quão mansos e humildes sejamos aos olhos dos homens. O nosso estado é de rebelião contra Deus, que exige e merece a nossa humildade. Se você se recusa a se sujeitar e humilhar, pois são estas as condições que o caminho da salvação por Cristo exige, então deveria lembrar que este espírito de orgulho é característico dos demônios: Não neófito, para que, ensoberbecendo-se, não caia na condenação do diabo (I Timóteo 3: 6). O livro de Provérbios está repleto de advertências quanto ao orgulho. Abominação é ao SENHOR todo o altivo de coração; não ficará impune mesmo de mãos postas (Provérbios 16: 5). Olhe para o Faraó, Coré, Hamã, Belsazar, e Herodes, e então considere aonde o caminho do orgulho o levará. Lembre-se destes exemplos para nutrir a humildade e caminhar humildemente com Deus. Olhe para Cristo a fim de ser perdoado do pecado do orgulho.

IV. BUSQUEMOS SER MAIS HUMILDES DE ESPÍRITO, FAZENDO COM QUE A HUMILDADE PERMEIE TODAS AS NOSSAS RELAÇÕES COM DEUS E TAMBÉM COM OS HOMENS.

Conheça e prossiga em conhecer a Deus. Confesse o quanto você não é nada diante dEle. Conheça você mesmo. Confesse o seu orgulho contra Deus. Não confie em si mesmo, mas em Deus somente. Renuncie toda a glória, a não ser a de Deus. Submeta-se a Sua vontade. Evite qualquer manifestação de orgulho. Busque e lute para obter o mesmo espírito de humildade demonstrado por Cristo em Sua vida terrena. Valorize a graça da humildade assim como Deus a valoriza em sua Palavra. Este foi o espírito com que Ele viveu aqui na terra, e também no céu. Porque assim diz o Alto e o Sublime, que habita na eternidade, e cujo nome é Santo: Num alto e santo lugar habito; como também com o contrito e abatido de espírito, para vivificar o espírito dos abatidos, e para vivificar o coração dos contritos (Isaías 57: 15).

Published inO amor bíblico e seus frutosVida cristã