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A caridade é oposta a um espírito de ira

O amor bíblico e seus frutos – Exposição de 1 Coríntios 13 – Capítulo 9

“O amor…não se irrita” (I Coríntios 13: 5).

Tendo considerado como a caridade é contrária aos dois grandes males do orgulho e do egoísmo, consideremos agora alguns frutos comuns destes males.

O verso acima expressa claramente que o espírito da caridade, ou amor Cristão, é completamente oposto a qualquer disposição para a ira ou cólera.

I. O QUE UM ESPÍRITO DE IRA É.

Nem toda ira é pecado. Os Cristãos são exortados a: “Irai-vos” (Efésios 4: 26). É possível estar irado em algumas ocasiões sem que venhamos a ofender a Deus. Quando a ira é pecado? Vamos descrever quatro exemplos de como a ira pode ser inapropriada e indevida.

A ira pode ser um pecado no que diz respeito à sua natureza. Devemos distinguir cuidadosamente entre o que é a ira pecaminosa e a mera oposição da mente, fazendo um juízo frio e imparcial, antes de condenarmos alguém ou alguma coisa que julgamos estar agindo mal. Também devemos fazer distinção entre a ira pecaminosa e o espírito de oposição contra os males naturais, tais como a dor e a tristeza, demonstrado por alguém.

Devemos ainda distinguir muito bem o que é a oposição contra os males morais e seus agentes voluntários, e a desaprovação destes próprios agentes, nenhuma das quais deve ser considerada como ira pecaminosa. Podemos perfeitamente externar a nossa desaprovação sem este tipo de ira ou contenda. Em toda a ira há um movimento de sentimentos, emoções, e afeições humanas. A ira é uma paixão extremamente forte na alma, que se opõe a todo mal, seja este real ou imaginário (Gênesis 34: 5 e 25; II Samuel 12: 5).

A paixão torna-se uma afeição má quando se dispõe a pagar o mal com mal e a vingar-se. Os Cristãos são exortados a desejar o bem de todos, a orar por todos, e até mesmo a bendizer aos que os perseguem (Mateus 5: 44). Somos instruídos: Abençoai aos que vos perseguem, abençoai, e não amaldiçoeis (Romanos 12: 14).

Porém, é claro que a vingança legítima, executada pela justiça pública contra os malfeitores não é proibida. A justiça, quando legitimamente executada, não deve ser vista como um ato particular dos magistrados, mas de Deus (Romanos 13: 1-7). Entretanto, a vingança pessoal é sempre proibida. Não te vingarás nem guardarás ira contra os filhos do teu povo; mas amarás o teu próximo como a ti mesmo. Eu sou o SENHOR. (Levítico 19: 18). Não vos vingueis a vós mesmos, amados, mas dai lugar à ira, porque está escrito: Minha é a vingança; eu recompensarei, diz o Senhor (Romanos 12: 19). Qualquer ira deste tipo é terminantemente proibida nas Escrituras. Toda a amargura, e ira, e cólera, e gritaria, e blasfêmia e toda a malícia sejam tiradas dentre vós (Efésios 4: 31).

A ira pode ser um pecado com respeito à sua ocasião. Se não há motivo, ou justa causa, então é pecado. Eu, porém, vos digo que qualquer que, sem motivo, se encolerizar contra seu irmão, será réu de juízo (Mateus 5: 22). Vamos considerar quando não há uma justificativa para a ira.

Primeiro, não há uma justificativa para a ira quando não há culpa na pessoa que é objeto da ira. Muitas pessoas descarregam a sua ira contra aqueles que não têm nada a ver primeiramente com o assunto, ou até fizeram o melhor que podiam para evitá-lo. Às vezes, a ira acaba sendo direcionada contra aqueles que estão fazendo o bem, e que deveriam ser elogiados por isso. Quando isto acontece, tal ira acaba sendo dirigida diretamente contra Deus e Sua providência. O profeta Jonas ficou irado porque Deus desejava poupar a cidade de Nínive, chegando ao ponto de justificar a sua ira. Então disse Deus a Jonas: Fazes bem que assim te ires por causa da aboboreira? E ele disse: Faço bem que me revolte até à morte (Jonas 4: 9). Ao nos irarmos contra qualquer ato da providência de Deus, estaremos dirigindo a nossa ira contra o próprio Deus, o Autor da providência. Além disso, quantos santos sofreram simplesmente porque eram santos! A santidade de vida, suas boas obras, suas reprovações amorosas, a firmeza na doutrina, foi o que os levou a serem odiados. Eles participaram dos sofrimentos de Cristo, a quem os sacerdotes e Fariseus odiaram sem causa (João 15: 25).

Segundo, é difícil justificar a ira quando a pessoa sempre se ira por coisas pequenas e triviais. Algumas pessoas são tão propensas a ficarem iradas por pequenas coisas em casa, no trabalho, e na sociedade, que não percebem erros ainda maiores que acabam cometendo todos os dias. Tais pessoas ficarão continuamente irritadas neste mundo caído e amaldiçoado pelo pecado em que vivemos. O que se indigna à toa fará doidices, e o homem de maus intentos será odiado (Provérbios 14: 17).

Aquele que pratica a caridade será tardio em irar-se, e só dará atenção a alguma provocação quando esta for realmente séria, utilizando-se da ira santa, e não da pecaminosa.

Terceiro, não podemos justificar a ira quando os nossos sentimentos e emoções são estimulados pelos erros cometidos por aqueles que discordam de nós de alguma forma, e não pelo fato deles estarem agindo contra Deus. Nunca deveríamos ficar irados, a não ser contra o pecado, e pelo fato deste pecado estar sendo cometido contra Deus. Cometemos o pecado da ira quando somos egoístas nisso. A nossa ira deveria ser semelhante a de Cristo. Quando sob as maiores injúrias pessoais, Ele era como um Cordeiro. As únicas ocasiões em que o vemos manifestando a Sua ira, ocorreram quando Ele defendeu a causa do seu Pai contra o pecado.

A ira pode ser um pecado com respeito ao seu fim. A razão tem que ter uma mão neste assunto quando consideramos a finalidade, vantagem, e benefício que a nossa ira produzirá para todos os estão envolvidos.

A glória de Deus deve ser o nosso maior objetivo. De outro modo, a nossa ira pode ser comparada a paixão cega dos animais. Nós devemos ser guiados em tudo pela nossa consciência atrelada as Escrituras. Se percebermos que o fim pretendido é errôneo, tal como a gratificação do nosso orgulho, então a nossa ira é pecaminosa.

A ira pode ser um pecado com respeito a sua medida. Podemos considerar isso através de dois aspectos.

Primeiro, a ira é um pecado quando desproporcional. O grau de ira nunca deveria exceder o limite estabelecido pela razão para se alcançar o fim ideal. Nunca deveríamos perder o controle, como se estivéssemos bêbados, dominado pela emoção, ou fora de nós mesmos.

Segundo, a ira é um pecado quando exagerada em sua continuidade. As Escrituras dizem: Irai-vos, e não pequeis; não se ponha o sol sobre a vossa ira (Efésios 4: 26), o que nos leva a concluir que até mesmo a ira justificada deve ter vida curta. Caso contrário, torna-se um ressentimento latente que dura dias ou talvez anos. Isso estimula uma atitude de ódio, e é um grande pecado aos olhos de Deus.

II. COMO O ESPÍRITO CRISTÃO É CONTRÁRIO AO ESPÍRITO DE IRA.

O amor Cristão é em si mesmo contrário a toda ira indevida. A natureza do amor esta na disposição de coração, não a má vontade. Ele dá as costas à ira e à vingança. O amor Cristão é tardio em responder às ofensas, só reagindo quando estas são feitas contra Deus.

Todos os frutos do amor Cristão mencionados no contexto são contrários a qualquer tipo de ira indevida.

Vamos considerar somente os dois grandes frutos mencionados até aqui, pois eles representam todas as outras virtudes.

Primeiro, o amor é humilde e se opõe ao orgulho. O orgulho é uma das grandes causas da ira indevida. Um senso elevado de auto-importância leva o homem a se tornar irracional e precipitado em ira.

Segundo, o amor é generoso e se opõe ao egoísmo. Buscar primeiramente os nossos próprios interesses é a outra grande causa da apressada, desordenada, irrefletida, e continuada ira. O homem que busca a sua própria glória é facilmente provocado.

Vamos agora aplicar estas verdades aos nossos corações.

I. DEVEMOS EXAMINAR A NÓS MESMOS.

A sua consciência te acusa neste exato momento? Com que freqüência você tem ficado irado? Quantas vezes você se irou injustamente? Você justifica a sua ira dizendo que é pela causa de Deus, quando na verdade somente o seu interesse próprio ou sua opinião é que foram afetados?

O que de bom você tem obtido com a sua ira, qual foi o seu objetivo nisso? Quantas vezes o sol se pôs sobre a sua ira enquanto Deus e o seu próximo sabiam disso? Você se encontra agora irado diante de Deus e com o coração ardendo em raiva por alguém? Ou está abafando a sua ira como um monte de folhas secas a espera de uma pequena faísca para incendiá-lo? Você tem sido uma fonte de discórdia em suas relações familiares? Você tem se mostrado impaciente e irado em ocasiões em que pequenas faltas foram vistas em outras pessoas, e talvez até você mesmo tivesse parte da culpa?

Vamos examinar a nós mesmo para saber de que tipo de espírito nós somos (Lucas 9: 55).

II. O ESPÍRITO CRISTÃO NOS PERSUADE E ADVERTE CONTRA TODA A IRA PECAMINOSA E INDEVIDA.

O coração do homem é propenso a ira por causa do orgulho natural e do egoísmo, e o mundo está tão repleto de ocasiões que estimulam esta corrupção em nós, que se desejamos realmente viver como um Cristão deveria, então temos que vigiar e orar constantemente. Não temos que lutar apenas contra os surtos da ira pecaminosa, mas lutar e mortificar o princípio da ira, nos fortalecendo e crescendo no amor. Para este fim, vamos considerar quatro coisas.

Primeira, considere suas próprias falhas, pelas quais você tem dado tanto a Deus, quanto aos homens, motivos para ficarem irados com você. Durante toda a sua vida você sempre esteve aquém quanto à vontade de Deus. Você merece ser castigado pela ira de Deus, mas ainda assim clama por Sua misericórdia. Da mesma maneira, você espera que as pessoas façam o mesmo com relação aos seus erros. Portanto, antes de ficar irado contra alguém, reflita sobre os seus próprios erros, e veja se não tem cometido os mesmos, ou talvez erros ainda piores.

Segunda, considere como a ira indevida destrói o seu próprio conforto, você morre de fome de paz e alegria, enquanto alimenta a sua própria miséria e inquietação.

Terceira, considere o quanto o espírito de ira o torna inapto aos deveres para com Deus. Nosso Senhor nos ensinou a não comparecermos perante o seu altar com um coração cheio de inimizades, Portanto, se trouxeres a tua oferta ao altar, e aí te lembrares de que teu irmão tem alguma coisa contra ti. Deixa ali diante do altar a tua oferta, e vai reconciliar-te primeiro com teu irmão e, depois, vem e apresenta a tua oferta (Mateus 5: 24). Quero, pois, que os homens orem em todo o lugar, levantando mãos santas, sem ira nem contenda (II Timóteo 2: 8).

Quarta, considere como a ira pecaminosa o torna inapto a viver em sociedade. Somos advertidos no livro de Provérbios 22: 24 quanto ao homem iracundo. Não sejas companheiro do homem briguento nem andes com o colérico. Isso faz de você um encrenqueiro e uma peste para a sociedade. O homem irascível levanta contendas; e o furioso multiplica as transgressões (Provérbios 29: 22). Além disso, você ficará desqualificado diante de Deus e dos homens, mostrando que você está mais apto a viver no inferno do que no céu. Portanto, vamos cultivar um espírito gentil e amoroso, pois este é o verdadeiro espírito da caridade e do céu.

Published inO amor bíblico e seus frutosVida cristã