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Capítulo 2: A origem do pecado

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Esta é uma das mais difíceis questões em teologia. Deus fez tudo bom na criação. Então como foi que começou o pecado? Como esta criação boa se rebelou contra seu Criador? Por quem e como se originou o pecado? Há muita coisa que não sabemos sobre este assunto. Porém há conclusões necessárias a se considerar.

1. O pecado não é eterno, pois teve princípio. Os gnósticos crêem em dois princípios eternos: o bem e o mal.

2. O pecado não foi criado por Deus. Deus criou tudo bom; não é o Autor do pecado. Os seres morais não tinham pecado ao serem criados. Satanás foi criado de modo perfeito e sem pecado. Ezequiel 28:15. “Deus fez ao homem reto”. Eclesiastes 7:29.

3. O pecado não foi o resultado necessário para a finidade. Há quem diga que porque Deus fez do homem um ser finito, o pecado era inevitável. Mas, se isto for verdade, os homens sempre serão pecadores, pois nenhum de nós jamais se tornará infinito. Este atributo pertence somente a Deus.

4. O pecado teve início num princípio de negação, o que significa que ele não é o resultado de nenhuma força positiva. Os seres morais foram criados bons, mas não imutáveis e independentemente bons. Isto os poria em pé de igualdade em relação a Deus; envolveria o absurdo de Deus criar outro Deus. Somente Deus é imutável e independente. Não pode haver mais de um Deus, auto-existente, auto-suficiente, soberano e supremo.

Os seres morais, anjos e homem, dependiam de Deus para continuarem bons. Um poder sustentador deve fluir continuamente de Deus para que as criaturas morais continuem como foram criadas. Salmo 66:9. Atos 17:28. Colossenses 1:16-17. Hebreus 1:3.

Este poder sustentador não é obrigatório, mas é pela graça. Não é uma questão de justiça. Deus podia exercer esta graça ou não, segundo o seu bem querer. Ele podia ter conservado e mantido em santidade todos os seres humanos. Ele podia ter impedido o pecado de começar entre os anjos, do mesmo modo como graciosamente o impediu de espalhar-se, mantendo em santidade aos que são mencionados como anjos eleitos. 1 Timóteo 5:21. Ele podia ter mantido Adão sem pecar. Não dá para dizer que, porque Deus fez Adão uma pessoa que age com liberdade moral, Ele não podia impedi-lo de pecar, sem violar-lhe a liberdade da vontade própria. Deus impediu Abimeleque, rei de Gerar, de pecar, não permitindo que ele tocasse em Sara. Gênesis 20:6.

E assim, o pecado teve origem na recusa dessa graça necessária para manter os seres morais num estado de santidade. Se Deus não tivesse permitido o pecado, não haveria manifestação de alguns de Seus mais gloriosos atributos. Não haveria manifestação de misericórdia, pois ela deve ter um recipiente de miséria e não poderia haver miséria se não houvesse pecado. Não haveria manifestação de ira, raiva nem ódio, pois todos eles são execuções de justiça e santidade contra o pecado. Não haveria manifestação de amor tão gracioso quanto o que vimos na dádiva de Deus em dar o Seu Filho, que foi castigado pelos pecadores. Não é muito dizer que Deus permitiu o pecado, a fim de que pudesse subjugá-lo “para louvor e glória da sua graça”. Efésios 1:6. Veja também Salmo 76:10.

O PRIMEIRO PECADOR

O pecado teve origem nos anjos. Esta coisa repugnante, escorregadia, brilhante e sútil, que chamamos pecado, foi tramada no dia em que Lúcifer, o filho da manhã, disse: “Subirei sobre as alturas das nuvens, e serei semelhante ao Altíssimo”. Isaías 14:13-14. Lúcifer queria ser igual a Deus no governo, e a soberania foi a isca que ele ofereceu ao homem, a fim de fazê-lo voltar-se contra seu Criador. E ao pecar, o homem se tornou ferramenta e aliado de Satanás.

A maioria das pessoas tem uma concepção infeliz e inadequada sobre o pecado. O pecado é uma coisa abominável, que Deus odeia. É mais do que um leve delito pelo qual Deus simplesmente chama a atenção o homem. O pecado é uma espécie de alta traição contra o Todo-poderoso e Triúno Deus, e é punido por consignação com o lago de fogo.

A ORIGEM DO PECADO NA RAÇA HUMANA

O pecado derivou-se no primeiro homem: “Portanto, como por um homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim também a morte passou a todos os homens por isso que todos pecaram”. Romanos 5:12.

Existem somente duas maneiras concebíveis pelas quais o pecado passa de uma pessoa para outra. Uma é pelo exemplo: Eva fez Adão pecar, do mesmo modo como Jeroboão fez Israel pecar. A outra é ao se participar do pecado dos outros. É lógico que não somos pecadores devido à força do exemplo de Adão. Contudo, na comparação entre Adão e Cristo (Romanos 5:19), pretende-se mostrar que o pecado surgiu através de Adão, da mesma maneira como a justiça veio através de Cristo. Não nos tornamos justos somente seguindo a Cristo como exemplo. Temos que receber Sua justiça imputada. “Mas vós sois dele, em Jesus Cristo, o qual foi feito por Deus sabedoria, e justiça, e santificação,e redenção”. 1 Coríntios 1:30. Isto faz surgir a questão do relacionamento de Adão com seus descendentes.

A AUTORIDADE DE ADÃO

Adão foi o cabeça da raça humana. Esta autoridade tanto foi natural quanto também dada por Deus. Natural, através do princípio da geração (fulano gerou beltrano); e também dada por nomeação divina.

1. Adão foi o pai (ou cabeça) natural da raça humana. Atos 17:26, 1 Coríntios 15:45. Cada pessoa estava seminalmente em Adão. Ele gerou filhos à sua própria semelhança física e moral, não antes, mas após a queda. Seus filhos se tornaram herdeiros de todos os males de seu corpo e sua alma. Eles herdaram sua depravação moral e fraqueza física. Sua natureza foi transmitida à sua posteridade.

2. Adão foi o cabeça designado por Deus da raça humana. Isto significa que Adão foi nomeado como a pessoa representativa. Ele representou a raça humana no pacto das obras. “Mas eles transgrediram a aliança, como Adão”. Oséias 6:7. A autoridade dada por Deus explica porque o pecado de Adão foi imputado (debitado) à sua posteridade. “Porque, como pela desobediência de um só homem, muitos foram feitos pecadores”. Romanos 5:19. Adão estava agindo em nome de toda a raça humana e o que fez foi debitado a todos os seus descendentes. Esta é a única maneira de se explicar a morte de criancinhas. Elas morrem ou por causa do pecado de Adão, ou por razão nenhuma, pois não pecaram pessoalmente. Romanos 5:14. Se Adão não representasse as criancinhas no que diz respeito ao pecado, então Cristo não as representaria no que diz respeito à salvação. Se não eram culpadas com a culpa de Adão, também não poderiam ser justificadas com a justiça de Cristo. Os bebês vão para o céu, não porque são inocentes, mas porque a base é o sangue de Cristo. Se Cristo não tivesse morrido, a raça humana, os bebês e adultos, estariam condenados eternamente. Não haverá ninguém no céu que não tenha sido redimido pelo sangue de Cristo. Os bebês receberam a culpa de Adão sem saberem nem consentirem. Mas, com base na morte de Cristo por eles, o Espírito Santo prepara-lhes a natureza (que é pecaminosa) para desfrutarem do céu.

O PRIMEIRO E ÚLTIMO ADÃO

Em 1 Coríntios 15:45 e 47 lemos que Jesus é chamado o segundo homem e o último Adão. Isto não tem nada a ver com existência, mas sim com representação. Se O considerarmos individualmente, Ele não foi nem o segundo homem nem o último Adão. Individualmente houve muitos homens entre o Adão do Éden e o Adão do Calvário, e já existiram muitos homens desde Jesus. Ele é chamado o último Adão porque só há dois homens representantes. Deus trata com toda a raça humana através de dois homens. Nosso destino depende em qual destes dois homens temos posição diante de Deus. Os crentes são aceitos no Amado, Efésios 1:6, e são perfeitos nEle. Colossenses 2:10.

CULPA E DEPRAVAÇÃO

Há dois aspectos ou ramificações do pecado: 1 – O que consiste da culpa por uma ação cometida; 2 – A corrupção ou depravação inerente da natureza adquirida por essa culpa. A posição do pecador é de culpa diante da lei de Deus; o estado dele é de depravação ou corrupção da natureza.

Houve dois resultados com o primeiro pecado de Adão: 1 – Ele foi imputado com a culpa e condenado pela lei de Deus; 2 – Ele perdeu a semelhança de Deus em santidade e se tornou corrupto. Qual das duas, ou ambas ramificações, veio de Adão? Há quem diga que a culpa do pecado é imputada, por isso batizam os bebês, para que não vão para o inferno. Outros dizem que a corrupção da natureza foi dada (herdada).

Mas nós cremos que o pecado, com as duas ramificações, se deriva de Adão. A culpa foi imputada e a corrupção da natureza foi dada ou herdada. Em outras palavras, a depravação ou corrupção da natureza é uma das conseqüências da transgressão de Adão. Deus castiga o inocente? A resposta é um sonoro: NÃO! Então todos nós estamos representados em Adão, na sua transgressão, ou não seríamos castigados com uma natureza pecaminosa.

O PRIMEIRO ADÃO FOI EXONERADO

Quantos dos pecados de Adão foram debitados à sua posteridade? Somente um, pois está escrito: “Porque o juízo veio de uma só ofensa, na verdade, para condenação, mas o dom gratuito veio de muitas ofensas para justificação”. Romanos 5:16.

Adão só podia transmitir o pecado à sua posteridade, enquanto fosse uma pessoa que representasse a raça humana. Imediatamente após seu primeiro pecado, ele foi exonerado do cargo e outra aliança foi feita. Gênesis 3:15. Quando Adão mostrou sua fé no Redentor prometido, agia em caráter particular; de outro modo, a fé dele teria sido imputada como seu pecado foi. Vamos então, escritor e leitor, agradecer a Deus pelo último Adão que é o Espírito que dá a vida.

Published inDefinição de doutrina – Volume 2