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Capítulo 16: Adoção

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Não existem palavras supérfluas nas Escrituras. Cada termo bíblico tem seu significado distinto e não deve ser confundido com nenhum outro termo. As palavras regeneração, justificação e adoção, embora intimamente relacionadas, expressam idéias e aspectos distintos da salvação.

Há somente cinco usos da palavra “adoção” no Novo Testamento. O termo é usado unicamente por Paulo em Romanos, Gálatas e Efésios. Nestas cinco referências parece haver três aplicações diferentes para o termo. Em Romanos 9:4 a aplicação é para Israel, como nação. Neste caso a adoção não significa salvação pois, no contexto, Paulo ora pela salvação de Israel. A nação fora adotada, mas a maioria do povo desta nação não fora regenerada nem justificada. Através da adoção Israel fora separado das outras nações e levado a ter um relacionamento de filho com Deus. “Então dirás a Faraó: Assim diz o SENHOR: Israel é meu filho, meu primogênito”. Êxodo 4:22. Veja também Deuteronômio 14:1, 32:6, Jeremias 31:9, Oséias 11:1.

Havia eleitos na nação eleita. Quando Elias queixou-se, dizendo que ficara sozinho e em perigo, Deus o corrigiu, dizendo: “Mas que lhe diz a resposta divina? “Reservei para mim sete mil homens, que não dobraram os joelhos a Baal”. Romanos 11:4. E Paulo acrescenta: “Assim, pois, também agora neste tempo ficou um remanescente, segundo a eleição da graça”. Romanos 11:5.

Em Romanos 9:8, Paulo diz que os filhos da carne não são filhos de Deus. Isto significa que não se é filho de Deus só por descender de Abraão. Mateus 8:12 diz que “os filhos do reino serão lançados nas trevas exteriores; ali haverá pranto e ranger de dentes”. Mateus 21:43 nos diz que o reino de Deus será tirado do reino de Israel e dado a uma nação que dê os seus frutos. Esta nação é identificada em I Pedro como nação santa, o que significa que é espiritual, diferente dos descendentes carnais de Abraão.

Em Romanos 8:23 a palavra adoção é usada em referência ao corpo e é chamada a redenção do corpo, o qual ainda não foi adotado. Quando o corpo do crente é redimido ou adotado, o povo de Deus então será publicamente manifestado como filhos de Deus. Romanos 8:19.

Nas outras três referências, a aplicação parece ser para o crente, sem qualquer distinção entre alma e corpo. Elas se referem à adoção de pessoas. Vemos em Efésios 1:5 que fomos predestinados para a adoção de filhos, o que significa que a adoção foi de acordo com o eterno propósito do amor de Deus. Na eternidade passada, Deus determinou nos adotar como filhos. A adoção se baseia na redenção, através ‘’do sangue expiatório”. Em Romanos 8:15, vemos o crente recebendo o espírito de adoção pelo qual, instintivamente, clama: “Aba, Pai”. O apóstolo usa a forma dupla para Pai. “Aba”, a língua materna (aramaico) e “Pater” (grego). “Aba” é usado para denotar o espírito filial de quem foi adotado. Ao usar esta palavra, Paulo faz alusão à lei entre os judeus que proíbe um servo de chamar o dono da casa de Aba (pai).

O costume da adoção era comum entre os romanos, gregos e outros povos antigos, mas não entre os judeus. Há três casos de adoção mencionados no Velho Testamento: o de Moisés (Êxodo 2:10), o de Genubate (I Reis 11:20) e o de Ester (Ester 2:7, 15), mas os três aconteceram fora da Palestina, no Egito e na Pérsia, onde a prática era comum. No Novo Testamento, a idéia só ocorre nas epístolas de Paulo às igrejas além dos limites da Palestina. Como cidadão romano, e homem de viagens, o apóstolo conhecia bem o costume dos romanos e dos outros povos. Assim, usou a idéia e a aplicou ao ato de Deus e à experiência cristã.

Pode-se definir adoção como o aspecto da salvação no qual Deus, através de um processo legal, faz de seu filho, alguém que, por natureza, não o é. A adoção em si, não é nada mais que o ato legal de um tribunal, mas quando Deus adota um filho, Ele dá a esse filho uma experiência subjetiva, um espírito filial, o sentimento de filho, que clama: Pai! É aqui que a adoção e o novo nascimento se unem. O novo nascimento expressa a origem e a qualidade da vida espiritual, ao passo que a adoção expressa um relacionamento legal entre o crente e Deus. Vamos examinar a adoção no seu relacionamento às doutrinas da justificação, regeneração e ressurreição. As três são bênçãos distintas e separadas, que fazem parte de todos quantos creram para a salvação da alma. Vamos examinar primeiro:

A JUSTIFICAÇÃO E A ADOÇÃO

Os dois termos são judiciais. São termos usados no tribunal. A justificação expressa o ato legal pelo qual a culpa do pecado é removida e o crente é considerado justo diante e Deus. A adoção expressa o ato legal pelo qual alguém, fora da família de Deus, se torna parte da família, no papel de filho. A adoção expressa um relacionamento que nem mesmo estava incluído na justificação. Quando um tribunal justifica uma pessoa, esta pessoa não se torna filho do juiz, por causa de tal ato. A fim de fazer o acusado de seu filho, o juiz teria que ir além de simplesmente defendê-lo e deixá-lo livre. A justificação livra da condenação; a adoção faz de alguém um filho, perante a lei. A justificação é o ato de um juiz misericordioso que liberta o prisioneiro. A adoção é o ato de um pai generoso, que toma um filho ao seio, doando-lhe a liberdade e também uma herança. Vamos examinar a seguir:

REGENERAÇÃO E ADOÇÃO

Tanto a regeneração quanto a adoção expressam um relacionamento, mas não são idênticas. A regeneração é o termo biológico que envolve uma mudança de natureza. A adoção é um termo legal e denota mudança de posição. A regeneração fala de um relacionamento através do nascimento. A adoção fala de um relacionamento através da lei. A regeneração confere a natureza de filhos. A adoção confere o nome de filhos. A regeneração torna a pessoa adequada (digna) à herança. A adoção dá um título à herança. O crente se torna parte da família de Deus através de um processo duplo: nascimento e adoção. Na regeneração, o Espírito Santo nos vivifica e como o Espírito de adoção, Ele nos capacita a orar e a clamar: Aba, Pai. Na regeneração, o Espírito Santo nos torna filhos de Deus; como o Espírito de adoção, Ele nos dá o clamor de filho, que é evidência de vida. Toda a oração verdadeira, adoração aceitável e vida santa vem do Espírito Santo; a carne para nada aproveita. Vamos pensar agora sobre:

RESSURREIÇÃO E ADOÇÃO

O corpo é redimido na ressurreição, porém a ressurreição e a adoção não são a mesma coisa. A adoção, quando aplicada ao corpo, envolve um certo tipo de ressurreição – a do corpo redimido. A ressurreição expressa simplesmente o pensamento que o corpo será levantado dentre os mortos, ao passo que a adoção fala da natureza do corpo ressurreto: um corpo redimido e glorificado – feito à semelhança do corpo glorioso de Cristo. O corpo do perdido ressuscitará também (Atos 24:15), mas não será adotado; não será um corpo glorificado.

Na adoção legal, a pessoa que vai adotar geralmente dá atenção às qualidades verdadeiras ou supostas da criança, as quais parecem boas ou agradáveis. Na adoção espiritual ou bíblica na família de Deus é toda ela pela graça, através dos méritos de Cristo. Na adoção legal o pai adotivo dá seus bens e o nome ao filho adotado, mas não pode dar a ele sua própria natureza. Na adoção espiritual, Deus faz daqueles a quem adota, não somente participantes do Seu nome e das Suas bênçãos, mas também dá a eles Sua natureza, transformando-os em Sua própria e bendita semelhança em Cristo, à imagem do qual são conformados no final.

Entre os romanos havia uma adoção dupla também: uma particular e outra pública. Quem ia adotar fazia a criança sua, através do processo da lei, mas numa adoção particular. Depois esta adoção se tornava pública. Os crentes são adotados como filhos de Deus agora, mas não serão publicamente manifestos, até que o Senhor venha buscá-los e então serão manifestados na glória.

Como este sermão não tem o mesmo comprimento dos outros, continuaremos agora a fazer algumas observações gerais. As doutrinas que publicamos parecerão aos secularistas como não sendo práticas e sim inúteis, devido à situação difícil atual no mundo inteiro, quando o coração dos homens se desvance pelo medo das coisas que estão acontecendo na terra. Devemos nos lembrar da deterioração nos relacionamentos humanos, que envolve tanto nações quanto indivíduos. Ouvimos que a raça humana está para se auto-destruir numa guerra nuclear e que doutrinas tais como as que pregamos não possuem valor prático para impedir esta ameaça de holocausto. Basta-nos replicar a estes lembretes e objeções, que nossos sermões tratam do relacionamento da pessoa com Deus e envolve uma guerra eterna. A ordem presente das coisas, por pior que seja, chegará a um fim e a ordem eterna será estabelecida para todos os homens, quer em tormento terrível, quer em glória e felicidade inefáveis.

O relacionamento de uma pessoa com Deus é de máxima importância, por causa da lei de Deus que foi violada, tornando-se a única fonte de perigo eterno e verdadeiro. A salvação é o livramento do pecado, e o pecado é indizivelmente perigoso, pois é contra Deus. Relacionar-se do modo certo com Deus, através de Jesus Cristo, significa vida eterna. Ser livre da maldição da leia de Deus significa segurança eterna. Ser filho de Deus é ser herdeiro de Deus, com a promessa de um lar na casa do Pai. A morte física vai acontecer a todos, enquanto o Senhor não voltar. As armas humanas de destruição, apenas matam o corpo, ao passo que Deus, o Juiz de toda a terra, pode destruir a alma e o corpo no inferno.

Ter um relacionamento certo com Deus é se relacionar de modo certo a tudo e a todos. Ter um relacionamento certo com Deus coloca tudo o mais na perspectiva adequada. Ter um relacionamento certo com Deus é garantia de glória no fim. Nada pode realmente atingir aquele a quem Deus abençoa!

Fonte Tu de toda a bênção, vem o canto me inspirar;
Dons de Deus, que nunca cessam, quero em alto som louvar.
Oh! Ensina o novo canto dos remidos lá dos céus
Ao teu servo e ao povo santo pra louvarmos-Te, bom Deus!
Cá meu Ebenézer ergo, pois Jesus me socorreu;
E, por sua graça, espero transportar-me para o céu.
Eu, perdido, procurou-me, longe do meu Deus, sem luz;
Maculado e vil, lavou-me, com seu sangue, o bom Jesus.
Devedor à tua graça, cada dia e hora sou;
Teu desvelo sempre faça com que eu ame a Ti, Senhor.
Eis minha alma vacilante, toma-a, prende-a com amor,
Para que ela, a todo instante, glorifique a Ti, Senhor.

EBENÉZER, Cantor Cristão – 132

Published inDefinição de doutrina – Volume 2