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Capítulo 13: A chamada eficaz

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Esta é uma das verdades mais negligenciadas da Bíblia. Falava-se muito sobre este assunto no passado. Também no tempo de Spurgeon e outros; mas, hoje, só aqui e ali se ouve uma voz a clamar esta doutrina bíblica. Até nos atrevemos a dizer que nove entre dez membros da igreja nem mesmo iriam opinar em relação a esta verdade bendita.

A palavra “chamado” é usada, às vezes, para expressar o ato de nomear. Por exemplo: em Mateus 1:21 lemos: “chamarás o seu nome JESUS”. Outras vezes, emprega-se a palavra com a conotação do ato de convidar ou convocar, como em Lucas 14:13: “Mas, quando fizeres convite, chama os pobres, aleijados, mancos e cegos”.

Quando a palavra “chamado” é usada para convidar, devemos fazer a diferença entre um chamado ao qual não se obedece e o outro que é eficaz – ao qual se atende. O objetivo principal do Evangelho é chamar as pessoas para a salvação, através da fé em Cristo. É óbvio que muitos destes chamados não são ouvidos, e muita gente continua perdida, apesar da pregação simples e apelo urgente. Por outro lado, vemos a pregação eficaz do Evangelho em muitos casos; vemos vidas transformadas por ele. Podemos ver um perdido ignorar e rejeitar o Evangelho em uma ocasião e, depois, na próxima vez ou um pouco mais tarde, ser salvo por ele. O que faz a diferença? O pastor? Não, pois até pode ser o mesmo nos dois exemplos. No Evangelho? Não, pois é o mesmo nos dois casos. A diferença é feita pelo Espírito Santo em Seu poder de dar luz e vida ao coração do pecador. Ao se pregar o Evangelho “somente em palavras”, isto é, sem o poder vivificador do Espírito Santo, o pecador continua espiritualmente morto, e será ou indiferente ou contra o chamado do Evangelho.

O chamado eficaz é quase equivalente à regeneração. Em Romanos 8:30 vemos a ordem dos atos divinos na salvação: “E aos que predestinou a estes também chamou; e aos que chamou a estes também justificou; e aos que justificou a estes também glorificou”. Note que se usa a palavra “chamado”, ao invés de “regenerado”. Os crentes, muitas vezes, são denominados “os chamados”, ou então “os nascidos de novo”.

A BÍBLIA FAZ DISTINÇÃO ENTRE OS DOIS CHAMADOS

Existem dois chamados de Deus para o homem. Um é o chamado geral, feito a todos quantos ouvem o Evangelho através da audição. O outro é especial e resulta na salvação daqueles que o ouvem. Os homens são salvos através deste chamado divino. Paulo se refere aos crentes em Roma e em Corinto “chamados santos”. Romanos 1:1 e I Coríntios 1:2. Ele pregou o Evangelho, sem distinção, a judeus e gregos, em Corinto. Ao judeu natural, o Evangelho era um escândalo e ao grego (gentio), uma loucura. “Mas para os que são chamados, tanto judeus como gregos, lhes pregamos a Cristo, poder de Deus, e sabedoria de Deus”. I Coríntios 1:24. Somente os chamados nos dois grupos viram o poder e a sabedoria de Deus no plano da salvação, através do Cristo crucificado.

Vamos examinar alguns versículos que falam sobre o chamado geral. Em Provérbios 1:24 Deus diz: “Entretanto, porque eu clamei e recusastes; e estendi a minha mão e não houve quem desse atenção”. Este foi um chamado externo, feito por Deus, através dos profetas, porém foi universalmente ignorado — ninguém lhe deu atenção. Em Mateus 22:14, lemos: “Porque muitos são chamados, mas poucos escolhidos”. Eis um chamado feito a um número bem maior dos que foram escolhidos e salvos. Na parábola da grande ceia, registrada em Lucas 14, nenhum dos convidados apareceu, mas todos apresentaram desculpas.

Vamos, agora, examinar alguns versículos que falam sobre o chamado especial e eficaz. Em Romanos 8:28 lemos que tudo coopera para o bem “daqueles que são chamados segundo o seu propósito”. “Os chamados” significa muito mais que “os convidados”, pois muitos são convidados para virem a Cristo, porém nunca vêm e assim, não são salvos. Para estes tudo não coopera para o bem. Em Romanos 8:30 lemos que os chamados também são justificados. Há muitos chamados (convidados) pela pregação do Evangelho que não são justificados. Paulo escreveu sobre o chamado eficaz na salvação ao dizer aos coríntios: “Porque, vede, irmãos, a vossa vocação que não são muitos os sábios segundo a carne, nem muitos os poderosos, nem muitos os nobres que são chamados”. I Coríntios 1:26. Em II Pedro 1:10 somos exortados: “Procurai fazer cada vez mais firme a vossa vocação e eleição”. Em todas estas passagens, o chamado é mais do que um simples convite externo para se crer no Evangelho.

A NATUREZA DO CHAMADO EFICAZ

1. É subjetivo ou interno. Há um chamado objetivo ou externo, no qual o Evangelho é apresentado e oferecido ao pecador. Neste chamado, a graça de Deus opera na mente e no coração; ao lhe compelir (no sentido de submeter a vontade humana à vontade de Deus), mas ao mudar a mente e o coração, através da inclinação governante da alma, a fim de que se torne disposto. Bancroft define o chamado eficaz com estas palavras: “Chamamos de convite eficaz ou o chamado eficaz o exercício do poder divino sobre a alma; poder este imediato, espiritual e sobrenatural, o qual transmite uma nova vida espiritual, tornando assim possível um novo modo de atividade espiritual. O arrependimento, a fé, a confiança, a esperança e o amor são, pura e simplesmente, os próprios atos do pecador, os quais só se tornam possíveis a ele, em virtude da mudança feita na condição moral de suas qualidades naturais, pelo poder de Deus de recriar”.

2. É um chamado especial. Existe um chamado geral cada vez e seja onde for que o Evangelho for pregado. Deus é sincero neste chamado e o pecador tem a responsabilidade de dar-lhe atenção, mas o fato é que não o faz. O chamado especial é algo além da pregação do Evangelho, pois é feito àqueles que são chamados ovelhas, eleitos, predestinados. Para estes, é sempre eficaz. Cristo disse: “As minhas ovelhas ouvem a minha voz, e eu conheço-as, e elas me seguem; e dou-lhes a vida eterna, e nunca hão de perecer, e ninguém as arrebatará da minha mão”. João 10:27-28. E, falando sobre as ovelhas perdidas entre os gentios, Ele declara: “Ainda tenho outras ovelhas que não são deste aprisco; também me convém agregar estas, e elas ouvirão a minha voz, e haverá um rebanho e um Pastor” João 10:16.Paulo reconheceu o eleito quando o Evangelho “Porque o nosso evangelho não foi a vós somente em palavras, mas também em poder, e no Espírito Santo, e em muita certeza, como bem sabeis quais fomos entre vós, por amor de vós” I Tessalonicenses 1:5.

John Bunyan ilustra a diferença entre o chamado especial e e o geral através do modo como uma galinha chama os pintinhos. Às vezes, ela cacareja, mas os pintinhos não dão a mínima atenção. Porém, quando cacareja avisando-os que o gavião está para pegá-los, eles vêm voando, em busca de proteção sob suas asas. Deus, do mesmo modo, tem um chamado que traz as ovelhas perdidas ao abrigo e segurança sob as asas abertas do Calvário.

Spurgeon encontra uma ilustração para este chamado eficaz na ressurreição física de Lázaro. Ele diz que se o Senhor Jesus não tivesse Se dirigido pessoalmente a Lázaro, ao dizer: “Lázaro, sai para fora” (João 11:43), todos os outros mortos teriam ressuscitado, ao ouvir Sua ordem.

Nosso Senhor faz uma distinção entre a ressurreição espiritual e física em João 5: 25, 28. Ele está falando sobre a ressurreição corpórea ao dizer: “Não vos maravilheis disto; porque vem a hora em que todos os que estão nos sepulcros ouvirão a sua voz”.

3. É um chamado miraculoso e invencível. Pedro diz que é um chamado para sair das trevas para a Sua maravilhosa luz. I Pedro 2:9. Cristo diz que é este chamado que faz o morto viver. Tal chamado tem o poder por trás. É o Espírito poderoso de Deus, agindo pela graça, que faz o pecador ver seu estado de desamparo e o valor do sangue de Cristo. Resistir, com sucesso a este chamado faria o pecador mais poderoso do que Deus. Havia a morte e a decomposição em Lázaro para impedi-lo de reagir à ordem de Cristo de sair do túmulo. Mas, havia poder de Deus, que vence todo e qualquer obstáculo da natureza. Do mesmo modo, existe muita coisa no pecador que resiste ao chamado do Evangelho, mas no chamado eficaz do Espírito esta resistência é vencida. O chamado eficaz é divino e surpreende o pecador descuidado e o faz pensar; traz luz ao entendimento obscurecido pelo pecado; abre o coração fechado por causa do pecado para receber Cristo como Senhor e Salvador. Sem a obra do Espírito Santo, a Palavra do Espírito seria rejeitada. A menos que o Espírito Santo ilumine a alma, a luz da Bíblia não será vista. O poder da conversão não está na inspiração nem na transpiração do pregador, mas na iluminação e regeneração do Espírito Santo.

O chamado externo do Evangelho, feito pelo pregador, assemelha-se à lei que acusa o réu e o leva ao julgamento; o chamado especial é o delegado que entra em contato com o réu, prende-o e o leva ao tribunal. A recusa do réu em se submeter à prisão não é prova de que seja superior à lei; mas se a lei for incapaz de levá-lo ao tribunal, isto seria uma prova que ele é mais forte que a lei. Então, quando o pregador convida os pecadores a se arrependerem e crerem no Evangelho e eles recusam, isto não indica que o pecador é mais forte do que Deus. Mas, se o Espírito Santo o chamar, vindo para dar para sua mente obscurecida a luz do evangelho, para fazê-lo arrepender-se e ter fé, para lhe dar um novo nascimento, e não conseguir, então isso provaria que o pecador é mais forte que Deus, o Espírito Santo. A depravação pode ser demais para o pregador, mas não para o Espírito Santo. É por isso que oramos, para que Deus converta o pecador, quando pregamos a ele.

O chamado geral é como o pai que chama o filho para levantar-se de manhã. O filho diz: “Ta bom!” e volta a dormir. O chamado não fez levantar; não surtiu nenhum resultado. O chamado eficaz é como o mesmo pai entrando no quarto do filho meia hora depois. Ele puxa o lençol e usa o cinturão. Isto funciona e o filho levanta na hora.

B. H. Carroll assemelha o chamado geral ao relâmpago, que é bonito e grandioso, mas não atinge nada; o chamado eficaz é como o raio que sempre atinge algum lugar.

A NECESSIDADE DO CHAMADO EFICAZ

1. A depravação humana, a condição da natureza humana caída, torna necessário o chamado sobrenatural e eficaz, para que haja conversão do pecador. O homem, por natureza, tem seu entendimento obscurecido pelo pecado. O coração está totalmente endurecido e sua mente é inimizade contra Deus. Se o pecador amasse a Deus e entendesse o Evangelho, ele imediatamente, ao ouvir o Evangelho, com amor e alegria atenderia o chamado feito pelas boas novas da salvação em Cristo. Mas, é preciso que o pecador passe por uma mudança de coração e mente, antes de receber Cristo como Senhor e Salvador. Esta mudança não é feita por ele mesmo e sim por Deus. Paulo disse a Timóteo para pregar, na esperança de que “porventura Deus lhes dará arrependimento para conhecerem a verdade, e tornarem a despertar, desprendendo-se dos laços do diabo, em que à vontade dele estão presos”. II Timóteo 2:25-26.

2. Este chamado especial do Espírito Santo é necessário porque o chamado do Evangelho, somente a Palavra, não é suficiente para a conversão do perdido. “Porque o nosso evangelho não foi a vós somente em palavras, mas também em poder, e no Espírito Santo, e em muita certeza, como bem sabeis quais fomos entre vós, por amor de vós”. I Tessalonicenses 1:5. John Bunyan afirmou: “Creio que, para haver o chamado eficaz, o Espírito Santo deve acompanhar a Palavra do Evangelho e isto com todo poder”. O Evangelho é adequado e suficiente como meio para a conversão, mas deve haver um agente, com poder, a fim de torná-lo eficaz. Deve haver o obreiro divino e também um equipamento divino. A Palavra é uma espada ótima, mas deve haver quem maneje. A Bíblia diz que a Palavra é a espada do Espírito. No chamado que não traz efeito, temos o Evangelho e o pregador; no chamado eficaz temos o Evangelho, o pregador e o Espírito Santo, o qual torna o Evangelho eficaz na conversão do pecador.

A RAZÃO PARA O CHAMADO EFICAZ

O chamado eficaz, feito pelo Espírito Santo e que assegura a salvação, em cada caso é feito em conseqüência do propósito eterno de Deus. Em Romanos 8:28 lemos que este chamado é “segundo o seu propósito”. Em II Timóteo 1:9 vemos o mesmo efeito: “Que nos salvou, e chamou com uma santa vocação; não segundo as nossas obras, mas segundo o seu propósito e graça que nos foi dada em Cristo Jesus antes dos tempos dos séculos”.A salvação não é um acidente, não é algo que acontece por acaso, mas é o cumprimento do propósito eterno de Deus em Cristo. O chamado eficaz é o ato divino, pelo qual o predestinado vem à salvação. É a posse do eleito; a indução à santidade. A salvação vem do Senhor e cada crente deve atribuir sua conversão à obra do Espírito Santo. Cada crente é um homem criado de novo por Deus e, portanto, um homem criado pela graça desde que ele não merecia a salvação. É Deus quem nos torna diferentes do perdido, portanto podemos, humildes e gratos, cantar:

Ouço meu Senhor dizer: teus esforços são em vão,
Nada podes merecer, Eu te dou a salvação.
A Ti, Jesus, Senhor, Venho como sou;
Bem nenhum mereço eu, Teu sangue me salvou.

Sim, eu venho a Ti, Jesus, Tua graça receber;
Infinito é teu amor, Sem limites Teu poder.
A Ti, Jesus, Senhor, Venho como sou;
Bem nenhum mereço eu, Teu sangue me salvou.

Ai, me falta a retidão, Sou indigno pecador,
Mas pureza alcançarei No Teu sangue redentor.
A Ti, Jesus, Senhor, Venho como sou;
Bem nenhum mereço eu, Teu sangue me salvou.

Pela fé em Ti, Senhor, Recebi o Teu perdão;
De pecado e de temor Livre está meu coração.
A Ti, Jesus, Senhor, Venho como sou;
Bem nenhum mereço eu, Teu sangue me salvou.

Lá no céu eu cantarei Tua eterna redenção;
Sempre ali Te renderei Meu louvor e gratidão.
A Ti, Jesus, Senhor, Venho como sou;
Bem nenhum mereço eu, Teu sangue me salvou.

COMO ESTOU, Cantor Cristão – 268.

Published inDefinição de doutrina – Volume 2