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Capítulo 4: Objeções à inspiração verbal

[Índice]

As acusações que são contra a inspiração verbal são muitas e variadas. Não vamos tentar observar todos, mas deve ter apenas algumas das mais comuns, confiando que a nossa discussão pode indicar como razoável e facilmente todas as outras acusações podem ser eliminadas.

Estas objeções concernem:

I. CÓPIAS E TRADUÇÕES FALÍVEIS

1. OBJEÇÃO APRESENTADA

A primeira objeção que consideraremos pode ser apresentada assim: “De que valor é a inspiração verbal das manuscritas originais da Escritura, uma vez que não temos essas manuscritas originais e desde que a grande maioria do povo deve depender de traduções das línguas originais, traduções que não podem ser tidas como infalíveis.”

2. OBJEÇÃO RESPONDIDA

(1) Esta objeção é correta em sustentar que as traduções das línguas originais da Escritura não podem ser tidas como infalíveis.

Em nenhum lugar Deus indica que os tradutores foram poupados ao erro. Inspiração verbal quer dizer a inspiração dos manuscritos originais da Escritura [Ninguém deve ser perturbado pelo fato de que as traduções não são infalíveis. Nossas duas grandes traduções do Inglês ( King James, ou “Versão Autorizada” e da Versão Padronizada Americana de 1901) são boas traduções de base. Tais erros, como eles contêm, não deixam qualquer doutrina da Bíblia em dúvida. Falando em traduções, o autor pretende deixar claro que ele não recomenda a revisão mais recente da Bíblia sob o patrocínio do Conselho Internacional do Ensino Religioso conhecida como Versão Revisada Padrão. Este é manifestamente o trabalho dos modernistas que fizeram tudo o que se atreveu a fazer (e modernistas são muito ousados) para obliterar a divindade de Jesus Cristo. Esta tradução não é nem boa nem erudita, mas sim uma peça de propaganda modernista.]

(2) Esta objeção é também correta em afirmar que não temos uma só das manuscritas originais de qualquer parte da Escritura.

(3) Mas esta objeção não prevalece contra o fato da inspiração verbal: ela só questiona o valor da inspiração.

(4) E a objeção está errada ao supor que uma cópia admitidamente imperfeita de um original infalível não é melhor do que a mesma espécie de cópia de um original falível.

É realmente melhor ter uma cópia imperfeita de um original infalível do que ter uma cópia perfeita de um original falível.

(5) A objeção está errada outra vez ao implicar que não temos uma cópia do original substancialmente exata.

Por meio de uma comparação das muitas cópias antigas dos originais da Escritura, a crítica textual progrediu a tal ponto que nenhuma dúvida existe quanto a qualquer doutrina importante da Bíblia. Enquanto que Deus não nos conservou as manuscritas originais (e Ele deve ter tido boas razões para não fazer assim), Ele nos deu tal abundância de cópias antigas, que podemos, com notável exatidão chegar à leitura dos originais.

(6) E o estudo do hebraico e do grego progrediu a tal ponto, e este conhecimento se tornou proveitoso mesmo ao povo comum, de tal modo, que todos podem ficar seguros do significado da língua original em quase todos os casos.

II. SALMOS IMPRECATÓRIOS

Outra objeção se traz contra o que é conhecido por “salmos imprecatórios”.

1. OBJEÇÃO APRESENTADA

Diz-se que o salmista “indignado grita contra seus opressores”, e que encontramos-lo usando uma linguagem, “que seria imprópria para os lábios de nosso Senhor”, no qual nos é dito que pode ser detectado “vestígios de preconceito e das paixões humanas “. Tais são as objeções levantadas por J. Patterson Smith, em “Como Deus Inspirou a Bíblia.”

O oponente está errado aqui no pressuposto de que os salmos imprecatórios expressam sentimentos pessoais de Davi contra os seus inimigos, apenas por causa do que tinha feito para ele. David foi o doce cantor de Israel, e não foi dado a manifestações de rancor e vingança pessoal. Observe sua postura de príncipe para o rei Saul, mesmo quando Saul procurou a sua vida sem uma boa razão.

2. CASOS ESPECÍFICOS CITADOS PELO OBJETOR

(1) “Ó Deus, quebra-lhes os dentes nas suas bocas” (Salmos 58:6). Um estudo deste salmo revela que as palavras citadas acima não se referem aos inimigos pessoais de Davi, mas aos injustos em geral. Davi estava aqui só articulando a indignação d’Aquele que “odeia todos os obreiros de iniqüidade” (Salmos 5:5). E notai que aqui nada se diz de Davi sobre este juízo sendo infligido imediatamente. Aqui só temos a permissão inspirada de Davi do julgamento final de Deus sobre os ímpios. Isto é evidente através da comparação do Salmo 58:9-11 com Apocalipse 19:1-6. Nestas passagens temos a profecia e o seu cumprimento.

(2) “Sejam seus filhos continuamente vagabundos e mendiguem; busquem o seu pão em lugares desolados” (Salmos 109:10).

Atos 1:16 mostra que isto não foi falado dos inimigos pessoais de Davi, mas foi uma expressão profética a respeito de Judas. E Pedro diz que o Espírito Santo falou isso pela boca de Davi. Esta imprecação sobre os filhos de Judas é segundo a própria revelação de Deus, de Si mesmo, como o que visita “a iniqüidade dos pais nos filhos até a terceira e quarta geração daqueles que O aborrecem” (Êxodo 20:5).

(3) “Ah! Filha de Babilônia, que vai ser assolada; feliz aquele que te retribuir o pago que tu nos pagaste a nós; feliz aquele que pegar em teus filhos e der com eles pelas pedras” (Salmos 137:8, 9).

Mas notai que as palavras não são uma oração, nem uma imprecação, mas totalmente uma profecia. Então notai que este juízo foi para ser atribuído a Babilônia por causa do modo pelo qual ela tratara Israel. E depois revocai as palavras de Deus faladas através de Balaão: “Abençoado é o que te abençoar e amaldiçoado é o que te amaldiçoar” (Números 24:9), nas quais temos um eco daquilo que Deus assegurou a Abraão (Gênesis 12:3).

As palavras de Davi, com aquelas de Isaías (Isaías 13) sobre Babilônia, tem um duplo sentido: referem-se imediatamente à destruição de Babilônia pelos medos (Isaías 13:7), mas remotamente à punição divina dos ímpios na vinda de Cristo à terra (Isaias 13:9-11; 34:1-17; Zacarias 14:1-7; Apocalipse 19:11-21).

Como agente de Deus, Davi revelou a indignação de Deus contra os ímpios mas, até onde seus próprios sentimentos pessoais diziam respeito, ele tinha somente misericórdia e benevolência para com os seus inimigos pessoais. Recusou molestar o Rei Saul quando ele teve a oportunidade e justificação humana, e após Saul morrer, inquiriu: “Ficou algum da casa de Saul a quem eu possa mostrar bondade?” (2 Samuel 9:1, 2, 11).

Estes exemplos são suficientes para mostrarem quão inócuas são as objeções dos críticos a respeito dos salmos imprecatórios.

III. A IMPRECAÇÃO DE NOÉ E O LOUVOR DE DÉBORA

Objeções semelhantes costumam ser trazidas contra a Bíblia por causa da imprecação de Noé sobre Canaã (Gênesis 9:25) e por causa de Débora louvar Jael por assassinar Cisera por traição (Juizes 5:24-31).

A resposta aqui é simples e breve. A Bíblia não justifica nem a Noé nem a Débora pelas expressões mencionadas: recorda meramente o fato que as expressões foram feitas. Verdade é que Noé expressou uma predição verdadeira das nações descendentes do seu filho, mas, que Deus o moveu a expressar a maldição sobre Canaã, ou meramente lhe permitiu expressar a verdade numa explosão de raiva, não está declarado.

A Bíblia, de modo algum sanciona cada palavra e ato nela recordados. Ela recorda as palavras e ações de homens maus, tais como o Rei Saul e Acabe; muitas vezes não dá o seu veredicto sobre eles. Deus revelou Sua Lei pela qual todas as ações serão julgadas; portanto, desnecessário foi que Ele devesse atravancar a Bíblia como a apreciação de toda a palavra ou ação arquivada. Inspiração verbal que dizer, simplesmente, que os escolhidos para escreveram a Bíblia foram guardados do erro no que escreveram. Se os seus escritores representam uma convicção sincera de si mesmo, é verdade; mas se o relato de alguma outra pessoa, pode ser verdadeiro ou falso, conforme a sua harmonia com a Bíblia como um todo.

IV. “CAPÍTULOS OBSCENOS” ASSIM CHAMADOS

É-nos dito que em certos capítulos da Bíblia “exala a obscenidade do princípio ao fim”.

Em resposta a esta objeção, diz R. A. Torrey: “que há capítulos na Bíblia que não podem ser prudentemente tratados numa audiência mista, não temos o desejo de negar; mas os referidos capítulos não são obscenos. Falar do pecado nos termos mais claros, mesmo do pecado mais vil, para se poder expor sua asquerosidade e para retratar o homem como ele realmente é, não é obscenidade: é pureza numa das suas formas mais elevadas. Se uma historia é ou não obscena, depende inteiramente de como é dita e para que fim é dita. Se uma história é contada para fazer uma brincadeira do pecado, ou para suavizar e desculpar o pecado (ou para gratificar a luxúria), é obscena. Se uma história é contada para fazer os homens odiarem o pecado, para mostrar aos homens a hediondez do pecado, para induzir os homens a darem ao pecado tão vasto desprezo quanto possível e mostrar ao homem sua carência de redenção, não é obscena: é moralmente salutar” (Dificuldades e Alegações Contraditórias e Erros na Bíblia).

Se esses capítulos foram obscenos, eles iriam fazer a leitura favorita nos antros do vício. Mas será que alguém já ouviu falar de pessoas perversas lerem a Bíblia por desejo de gratificar a concupiscência? Estes não recebem prazer de ler a Bíblia, mas eles se deleitam em ouvir os comentários obscenos dos críticos. É a crítica que é obscena e não a Bíblia. Col. Ingersoll opôs-se à Bíblia para ações relativas vil, “sem um toque de humor”, como se justo fora a Bíblia ter feito uma caçoada do pecado e da imoralidade.

V. VARIAÇÕES NUMÉRICAS

Uma objeção é trazida contra a inspiração verbal por causa de variações numéricas.

A respeito do número dos judeus, achamos que a soma dada em 1 Crônicas 21:5 de Israel é 1.100.000 e para Judá, 470.000, fazendo um total de 1.570.000; ao passo que o número dado em 2 Samuel 24:9 de Israel é 800.000 e de Judá é 500.000, fazendo um total de 1.300.000. Esta discrepância é facilmente explicada por notar-se que o número dado em Crônicas para Israel foi de homens “dos que arrancavam espada”, pelo que se entende que havia este número de homens sujeitos ao serviço militar, enquanto que Samuel nos diz que em Israel havia tantos “valentes que arrancavam a espada”, pelo que se quer dizer que havia esse número de homens que se distinguiram por bravura em combate atual. A diferença a respeito de Judá foi ocasionada pelo fato de Samuel ter dado o número total de homens em Judá, ao passo que Crônicas dá o número de homens sujeitos ao serviço militar.

Em outros lugares, tais como 1 Reis 7:26; 2 Crônicas 4:5; 2 Samuel 8:4 e 1 Crônicas 18:4 as diferenças numéricas são provavelmente devidas a erros de transcrição. Os números se indicam por letras em hebraico e uma pequena alteração de uma letra muda grandemente o seu valor numérico.

Não deverá parecer-nos estranho que as atuais cópias da Bíblia contenham alguns erros menores. Não deverá surpreender-nos qualquer coisa mais que a descoberta de alguns erros de revisão em nossas Bíblias. Não temos mais razão para crermos em copistas infalíveis do que temos para cremos em impressores infalíveis. Verificando a laboriosa tarefa de se copiarem as Escrituras à mão, é maravilhoso que não haja mais erros menores.

Noutro lugar uma diferença numérica (Números 25:9) é para ser explicada como o uso perfeitamente legítimo de números redondos dos exatos.

VI. ALEGADO ENGANO DE MATEUS

Alega-se que Mateus atribuiu a Jeremias uma profecia que devera ter sido creditada a Zacarias.

Este suposto engano de Mateus acha-se em Mateus 27:9,10. Aqui Mateus parece citar Zacarias 11:13, mas que isto não é absolutamente certo, parece de uma comparação das duas passagens. Mateus não faz uma citação verbal de Zacarias, portanto não se pode manter com certeza que ele intencionou estar citando Zacarias. E, enquanto não temos nos escritos disponíveis de Jeremias qualquer passagem que realmente se pareça com a citação de Mateus, estamos longe da necessidade de admitir que Mateus cometeu um engano. Não sabemos se temos todas as expressões proféticas de Jeremias. Em Judas 14 temos mencionada uma profecia de Enoque que não encontramos em nenhum outro lugar da Bíblia. Não ouvimos de nenhuma objeção ser trazida contra esta passagem. Mas supõe que algum outro escritor na Escritura tivesse dito algo semelhante às palavras atribuídas a Enoque. Então o critico teria dito que Judas se enganou.

Mais ainda, pode ser que os capítulos 9 até 11 do livro atribuído a Zacarias foram escritos por Jeremias. Muitos críticos creem que só os primeiros nove capítulos de Zacarias compõem os escritos atuais deste profeta. Mateus estava em posição muito melhor do que quaisquer dos seus críticos para saber de quem ele estava citando. Supor que ele descuidadamente escreveu Jeremias quando pensou Zacarias, deixando-o sem subsequente correção, é supor um absurdo. E não há sinal que um copista fez o erro.

VII. SUPOSTO ENGANO DE ESTEVÂO

Nossa objeção seguinte a se considerar é uma alegada contradição entre Gênesis 23:17,18 e as palavras de Estevão em Atos 7:16.

A isto respondemos:

1. Mesmo que uma contradição pudesse ser feita aqui, nada provaria contra a inspiração, pois Estevão não foi um dos escritores inspirados.

Lucas meramente recorda o que Estevão disse.

2. Mas aqui não aparece contradição.

As duas passagens não se referem à mesma coisa. O sepulcro mencionado no Gênesis estava em Hebron; o mencionado por Estevão estava em Siquém. Isto torna claro que Abraão comprou dois sepulcros. No caso do comprado em Hebron, ele comprou o campo rodeando o sepulcro; mas, no caso de Siquém, nenhuma menção se faz à compra do campo em redor.

Este último fato explica uma outra alegada contradição. Acusa-se que Gênesis 33:19 refere que Jacó comprou o sepulcro em Siquém. Mas tal coisa não está afirmada em Gênesis 33:19. Genesis 33:19 diz simplesmente que Jacó comprou o campo na vizinhança de Siquém; e, desde que os ossos de José foram enterrados neste campo, foi neste campo, com toda probabilidade, que se citou o segundo sepulcro de Abraão. Isto também parece do fato do segundo sepulcro de Abraão e do campo comprado por Jacó pertencerem primeiro aos mesmos donos. Assim, neste último caso temos simplesmente Abrão comprando um sepulcro enquanto que, mais tarde, Jacó compra o campo em que se situou o sepulcro.

VIII. A GENEALOGIA DE CRISTO

As duas genealogias de Cristo são tidas como contraditórias. Para estas genealogias vide Mateus 1 e Lucas 3. A explicação aqui é:

1. Mateus dá a genealogia de Jesus por meio de José, porque estava apresentando Jesus como rei dos judeus.

Portanto, ele desejou mostrar o seu direito legal ao trono, o qual exigia que Jesus descendesse de Davi através do Seu (suposto) pai.

2. Lucas dá a descendência de Jesus por meio de Maria, porque estava interessado em apresentar Cristo somente como o Filho do Homem.

Logo, é natural que ele desse a presente descendência humana de Cristo, mais do que Sua descendência suposta e legal; mas, invés de inserir o nome de Maria, Lucas inseriu o nome de José, porque não era costume aparecer os nomes de mulheres nas tábuas genealógicas. José é dito ser o filho de Eli, mas, num sentido vago, isto pode significar nada mais senão que José era genro de Eli. Os Targuns nos dizem que Eli era o pai de Maria.

3. Uma outra dificuldade quanto ao pai de Salatiel, Mateus dando Jeconias e Lucas dando Neri, é para ser explicada pelo fato de que Lucas dá a linhagem completa, enquanto que Mateus deu somente a linhagem real começando com David.

Jeconias é o mesmo que Joaquim, um dos últimos reis de Judá

IX. A INSCRIÇÃO SOBRE A CRUZ

As quatro narrativas da inscrição sobre a cruz têm sido sujeitas a criticas. Mas notemos:

1. Não temos indicações que cada um dos escritores pensou estar dando tudo quanto estava na inscrição.

2. Nem um dos escritores contradiz-se atualmente com os demais.

Podemos ver melhor este fato por arranjar as narrativas da inscrição como segue:

Mateus 27:37 – “ESTE É JESUS …………………………………………….. O REI DOS JUDEUS”.

Marcos 15:26 – “………………………………………………………………….. O REI DOS JUDEUS”.

Lucas 23:38 – “ESTE É ……………………………………………………….. O REI DOS JUDEUS”.

João 19:19 – “………………………………………. JESUS NAZARENO, O REI DOS JUDEUS”.

Total ……………………………………… “ESTE É JESUS NAZARENO, O REI DOS JUDEUS “.

3. Assim como se requer dos quatro evangelistas que nos deem um retrato completo de Jesus, assim deles se requer que nos deem uma relação completa da inscrição sobre a cruz.

Os diferentes aspectos de Jesus e do Seu ministério, conforme estão estabelecidos no Evangelho, indicam-se no seguinte verso:

“Mateus, Messias, o Rei de Israel estabelece-se, morto por Israel; Mas Deus decretou que a perda de Israel fosse o ganho dos gentios. Marcos conta-nos de como em paciente amor esta terra foi uma vez pisada, por um que em forma de servo era contudo o Filho de Deus. Lucas, o médico, conta de um médico ainda mais hábil, O qual deu Sua vida como Filho do Homem, para curar-nos de Todo mal. João, o amado de Jesus, vê nEle o Filho do Pai; o Verbo eterno feito carne, contudo Um com o Pai.”

Pode ser que a inscrição diferia nas três línguas, e que isto justifica, em parte, as diferenças nas narrativas.

X. NARRATIVAS DA RESSURREIÇÃO

Objeta-se por causa de supostas contradições nas diferentes narrativas da ressurreição.

1. Mateus menciona somente o aparecimento de um anjo às mulheres no sepulcro (28:2-8), ao passo que Marcos diz que foi um jovem (16:5-7) e Lucas diz que havia dois homens (24:4-8).

Não há contradição aqui. O jovem mencionado por Marcos é evidentemente o anjo mencionado por Mateus. Anjo quer dizer “mensageiro”. O mensageiro de Deus às mulheres foi uma aparição sobrenatural na forma de um moço. Um anjo é um espírito e não tem corpo material de si próprio, mas pode assumir um corpo temporariamente.

2. Marcos diz que a mensagem do anjo foi entregue às mulheres depois que elas entraram no túmulo. Mateus não faz menção da entrada no sepulcro.

Mas aqui não há contradição, porque Mateus não diz que as mulheres não entraram no túmulo antes que o anjo desse a mensagem.

3. Lucas menciona os dois homens em pé, enquanto que Marcos menciona o jovem sentado.

Isto se explica facilmente por supor-se que o que falou (e, sem dúvida, o outro também) estava sentado quando primeiro visto, e que se levantou, como seria natural, antes de se dirigir às mulheres. Lucas não diz que os dois homens não estavam sentados quando as mulheres entraram no túmulo e Marcos não diz que o seu jovem não se ergueu antes de falar.

4. Lucas diz, ao relatar a mensagem às mulheres: “Eles lhes disseram”, ao passo que Marcos diz: “Ele lhes disse”.

Um desses homens provavelmente fez a fala, não teria sido provavelmente a recitar a mensagem em uníssono, como crianças em idade escolar podem fazer. Mas o outro concordou com a mensagem. Portanto, a declaração de cada escritor é válida. Quando uma pessoa fala e outra concorda no que é dito, é perfeitamente apropriado dizer que os dois disseram o que é dito.

5. A mensagem dos anjos não está relatada por todos os escritores com as mesmas palavras.

Mas isto não apresenta dificuldade real, porque nenhum deles indica que está dando a mensagem verbalmente.

(João 20:11-13 não está considerado aqui em conexão com o precitado porque recorda uma ocorrência mais tarde).

XI. CHACINA DE NAÇÕES PAGÃS

A ordem concernente à chacina das nações pagãs na terra de Canaã tem dado lugar a uma objeção. Vide Deuteronômio 20:16,17.

1. Deus afirma que punirá os ímpios no inferno por toda a eternidade.

Se Deus tem o direito de fazer isto (e quem o negará?), não terá Ele o direito de ordenar tirar-lhes a vida física quando Lhe apraz fazer? Por que, então, duvidar que Deus inspirou esta ordem?

2. Foi um golpe de misericórdia cortar esses povos prematuramente em sua iniqüidade, que por mais dias só lhes traria maior castigo no inferno.

Nenhum dos adultos que foram trucidados na sua impiedade foi dos eleitos; porque todos os eleitos que alcançam a responsabilidade vêem a Cristo antes da morte; logo, é verdade que a continuação da vida só podia envolver esses povos em maior castigo.

3. Quanto às crianças entre essas nações, se Deus aprouve levá-las para o céu na sua infância, quem objetaria?

Deus sabe melhor e faz tudo bem. A salvação dos nasci mortos e criancinhas mortas está tratada no capítulo sobre Responsabilidade Humana.

XII. O DIA LONGO DE JOSUÉ

Traz-se objeção porque a Bíblia recorda que certo dia se prolongou pela parada do sol à ordem de Josué (Josué 10:12-14).

1. Faz-se objeção à linguagem de Josué.

Diz-se que a linguagem de comando de Josué e do relato bíblico da ocorrência implica que o Sol se move em sua relação com a terra. Mas isso não é mais verdade dessa língua que é da nossa língua, quando falamos do sol, nascendo e se pondo. Em ambos os casos, temos a linguagem da aparência, que é comum tanto na Bíblia como na nossa linguagem cotidiana.

2. Faz-se objeção à autenticidade da ocorrência.

Uma objeção é feita quanto a autenticidade da ocorrência. Diz-se que uma coisa como o prolongamento do dia não poderia ocorrer sem resultados desastrosos. Mas, por mais absurdo que possa parecer aos nossos sábios críticos, os registos deste dia têm sido encontrados no Egito, China e México. Além disso, o fato de um dia extra ter sido adicionado à cronologia astronômica é testemunhada por três eminentes cientistas, viz. W. Maunders, anteriormente do Observatório Real de Greenwich, e Totten Professores e Pickering, ex-integrante do Observatório de Harvard.

O autor admite que a desaceleração da rotação da terra seria atendido com resultados terríveis, a menos que as leis da natureza tenham sido suspensas ou algumas causas naturais, que não podemos imaginar foram colocados em jogo. Mas desde que nós acreditamos em um Deus que opera milagres, não temos dificuldade em acreditar que Deus poderia contornar as conseqüências naturais calculadas em qualquer uma das formas sugeridas.

XIII. JONAS E A “BALEIA”

Diz-se que a baleia não podia ter engolido Jonas. Notaremos primeiro que, quando corretamente traduzida, a Bíblia não diz que foi uma baleia que engoliu Jonas. A palavra grega para baleia em Mateus 12:40 significa simplesmente um “monstro marinho”. Por outro lado, notaremos que a idéia de uma baleia não poder engolir um homem é outra pretensão ignorante. No “Cruzeiro de Cachalot”, Frank Bullen caracteriza a idéia que a garganta de uma baleia é incapaz de admitir qualquer objeto grande como “um pedaço grosseiro de ignorância”. Ele relata como “um tubarão com quinze pés de comprimento foi achado no estômago de uma baleia” e ele descreve este monstro como ” nadando com a mandíbula pendurada na sua posição normal, e sua enorme goela escancarada como uma caverna submarina”. Nisto Jonas podia ter escorregado tão facilmente que a baleia teria ficado escassamente cônscia de sua entrada. Outro testemunho notável do Sr. Bullen é “que quando morrendo, a baleia sempre expulsa os conteúdos do seu estômago” e diz que, quando apanhada e morta, uma baleia de tamanho completo despeja do estômago alimento “em massas de enorme tamanho … sendo algumas delas calculada terem o porte de nossa chocadeira, isto é, oito pés por seis x seis!” Ainda assim dizem os críticos que a Bíblia está errada! A despeito da asserção confiada dos críticos quererem ser sábios, que um homem não podia sobreviver à ação do suco gástrico no estômago de um peixe, há casos arquivados de homens serem engolidos por tubarões e saírem vivos. Contudo, desnecessária é uma explicação que o Doador da Vida podia ter conservado Jonas vivo miraculosamente.

XIV. SACRIFÍCIOS DE ANIMAIS

Na base de Isaías 1:11-13; Jeremias 7:22; Amós 5:21-24; Miquéias 6:6-8 têm-se afirmado que os profetas denunciaram todos os sacrifícios animais e não os reconheceram como sendo de instituição divina. Semelhante noção representa, sem dúvida, os profetas como estando em conflito com o Pentateuco. Para vermos que o Pentateuco representa Deus ordenando sacrifícios animais, temos só de examinar capítulos tais como Êxodo 12; Levítico 4:8,12 e 16.

Em resposta à afirmação que os profetas denunciaram todos os sacrifícios animais e não os reconheceram como sendo de origem divina, notemos:

1. Jeremias fala noutro lugar de sacrifícios como estando entre “às bênçãos coroantes de um dia mais feliz”.

Veja Jeremias 33:18. Isto é para se cumprir num dia quando Deus diz que Israel será para Ele “um nome de júbilo, de louvor e glória, perante todas as nações da terra” (Jeremias 33:9). Então Israel não será mais uma nação rebelde, andando em obstinada desobediência. Farão então as coisas que agradam ao Senhor e uma das coisas que farão, segundo Jeremias 33:18, é oferecer, por meio dos seus sacerdotes, ofertas queimadas e sacrifícios continuamente. Jeremias fala disto com a máxima aprovação.

2. Amós condenou os sacrifícios de Israel só porque juntamente com os seus sacrifícios a Deus tinham levado o tabernáculo de Moloque.

Veja Amós 5:25,26. Com o culto idólatra tinham negligenciado o juízo e a justiça. Por estas razões Deus odiou os seus dias de festa. Veja Ezequiel 20:39. Eram fingimentos hipócritas de respeito para Jeová. Pelas mesmas razões Deus desgostou-se dos seus cânticos. Concluiremos que Deus rejeitou todo cântico?

3. O significado de Jeremias 7:22 é que Deus não falou a Israel primariamente sobre sacrifícios no dia em que o tirou do Egito e que não ordenou sacrifícios como um fim em si.

“Remove-se a dificuldade quando o ponto preciso do texto é reconhecido. A palavra ‘acerca’ deverá ser vertida ‘com vista à matéria de sacrifícios’. Isto é, eles não são o fim contemplado: eram só meios de alcançarem um fim mais elevado; portanto, estavam enganados e errados todos quantos limitaram suas vistas ao sacrifício formal” (Robert Tuck, em Um Manual de Dificuldades Bíblicas).

4. A linguagem dos outros profetas não é mais forte do que a linguagem usada noutros lugares da Escritura, a qual não pode ser manifestamente tomada no absoluto.

Em Êxodo 16:8 Moisés declarou a Israel: “Vossas murmurações não são contra nós, senão contra o Senhor”, enquanto que, no verso 2, se diz que os filhos de Israel “murmuraram contra Moisés e Arão”. E no Salmo 51:4 Davi disse na sua oração a Deus: “Contra Ti, contra Ti somente pequei e fiz o mal em Tua vista”, quando é certo que ele pecara contra Urias. Daí lemos: “É um modo usual de falar da Escritura, para expressar a preferência que se deve a uma coisa sobre outra, em termos que expressam a rejeição daquilo que é menos digno” (Lowth). E outra vez: “Henderson nota sugestivamente que não é infreqüente na Escritura afirmar-se uma coisa absolutamente que é verdadeira só relativamente. Absolutamente Deus ordenou sacrifícios, mas não tais como eles ofereceram, nem de obrigações finais” (Tuck, ibid.). Mais: “A negativa no hebraico muitas vezes supre a falta do comparativo, não excluindo a coisa negada, mas só implicando a pretensão primaz da coisa posta em oposição a ela” (Comentários por Jamieson, Fausset, e Brown).

Correspondendo ao acima citado, achamos em Oséias 6:6 tanto a cláusula negativa como a comparativa colocadas juntas como para indicar que ambas expressam a mesma verdade. E a última clausula, – “e conhecimento mais do que ofertas queimadas” fornece a chave para interpretar-se todas as denunciações dos sacrifícios de Israel.

XV. O ESPÍRITO MENTIROSO NA BOCA DOS PROFETAS DE ACABE

Em 2 Crônicas 18:22 Mica está representando como declarando a Acabe: “O Senhor pós um espírito mentiroso na boca destes teus profetas”. Isto faz-nos perguntar se Deus fez este espírito mentiroso estar na boca dos profetas de Acabe. A resposta é que Ele não fez. O recordado aqui, juntamente com uma porção de outras passagens, dá uma forte expressão que teve lugar segundo a providência ou propósito permissivo de Deus. Veja discussão da vontade permissiva de Deus no capítulo sobre “A Vontade de Deus”. Veja também Isaías 45:7, onde se diz que Deus criou o mal. Isto é para ser explicado da mesma maneira como a passagem precedente.

Esta explicação é reforçada por uma comparação de 2 Samuel 24:1 com 1 Crônicas 21:1. Na primeira passagem se diz que Deus moveu Davi a numerar Israel e na última se diz que Satã “provocou Davi a numerar Israel”. Deus moveu Davi permissivamente. Todas estas passagens tomadas em conjunto são mutuamente explanatórias.

XVI. CITAÇÕES DO NOVO TESTAMENTO TIRADAS DO VELHO

Levanta-se uma objeção por causa de diferenças verbais entre algumas passagens do Velho Testamento e a citação delas no Novo.

Mas, como já notamos, em vez disto ser contra a inspiração verbal, é um argumento a favor dela. Se Deus pôs mais sentido nas passagens do Velho Testamento do que a linguagem podia comunicar aos homens, não foi privilégio todo Seu trazer este sentido ao Novo Testamento? Deus tem direito de interpretar Suas próprias palavras. Na verdade, estas citações mostram a profundeza e amplidão da Escritura e assim testemunham de sua inspiração.

Autor: Thomas Paul Simmons, D.Th.
Digitalização: Daniela Cristina Caetano Pereira dos Santos, 2004
Revisão: Charity D. Gardner e Calvin G Gardner, 05/04
Revisão da tradução e gramatical: Viviane Sena 2010
Fonte: www.PalavraPrudente.com.br

Published inBíbliaTeologia sistemática T. P. Simmons