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Capítulo 4: A doutrina “Sola Scriptura” aplicada de maneira prática

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A exposição doutrinária deve ser seguida de aplicação prática. Depois de afirmarmos a suficiência e a finalização da Escritura, vem a pergunta de como isso se aplica aos nossos dias. Fazendo assim, estamos seguindo o exemplo não apenas de apóstolos inspirados como Paulo, mas também de sábios pregadores através dos séculos. Veja as palavras de João Calvino, por exemplo, que depois de expor Hebreus 1:1-2 fez uma forte aplicação prática para seus dias:

Quando ele diz “a nós falou-nos nestes últimos dias”, ele quer dizer que não existe razão pela qual deveríamos ter dúvidas se devemos esperar ou não alguma nova revelação. O que Cristo trouxe não foi uma parte da Palavra, mas a palavra finalizadora. É este o sentido em que os apóstolos entendiam “os últimos tempos” e “os últimos dias”. Isto também é o que Paulo entende quando ele escreve “para quem já são chegados os fins dos séculos.” (I Coríntios 10:11). Se Deus já falou a Sua última Palavra, é certo avançarmos até este ponto, tão certo também devemos parar de ir além quando chegamos a Ele. É de suprema necessidade que reconheçamos ambos os aspectos, pois uma grande falha dos judeus foi a de eles não admitirem a possibilidade de que Deus ter adiado um ensino mais completo para outra época. Eles estavam contentes com a sua própria lei, e não avançaram em direção ao objetivo. Por outro lado, desde que Cristo apareceu, o mal oposto começou a ter efeito no mundo. Eis que os homens tentam ir além de Cristo. O que mais é o sistema papal na sua íntegra, a não ser a transgressão desse limite fixado pelos apóstolos? Logo, enquanto que o Espírito Santo, nesta passagem, convida todos a virem até Cristo, Ele os proíbe de ir além de sua última Palavra da qual Ele faz menção. Em resumo, o limite de nossa sabedoria está localizado aqui no evangelho. [1]

Seguindo tais exemplos, conclamamos as pessoas em nossos dias a se submeterem ao Senhorio de Cristo reconhecendo-o como a palavra final de Deus. Há um grande perigo em negligenciar o evangelho de Cristo.

“Como escaparemos nós, se não atentarmos para uma tão grande salvação, a qual, começando a ser anunciada pelo Senhor, foi-nos depois confirmada pelos que a ouviram; testificando também Deus com eles, por sinais, e milagres, e várias maravilhas e dons do Espírito Santo, distribuídos por sua vontade?” Hebreus 2:3-4

“Quem crê nele não é condenado; mas quem não crê já está condenado, porquanto não crê no nome do unigênito Filho de Deus.” João 3:18

Jesus é o Cristo, o Filho de Deus. Ele morreu para pagar pelos pecados e ressuscitou para provar que isto foi consumado. Ele é o único caminho ao Pai, e o único meio para se obter perdão. Sem Cristo, você está sem Deus e sem esperança. Deus chama você ao arrependimento e a crer em Seu filho.

“Quem crê no Filho de Deus, em si mesmo tem o testemunho; quem a Deus não crê mentiroso o fez, porquanto não creu no testemunho que Deus de seu Filho deu.” I João 5:10

Lembramos os nossos amigos judeus que rejeitar a Jesus como sendo o Cristo é fechar os ouvidos à palavra final de Deus. Moisés e os profetas prepararam o caminho para Ele. Ele é o mediador da nova aliança prometida nos Seus profetas. Ele é a esperança de Israel, o profeta como Moisés, a semente de Davi, e o rei de Israel. Que Deus não permita que Ele venha a se posicionar como a luz para os gentios enquanto vocês fiquem deixados em trevas.

Em terceiro e ultimo lugar, advertimos as pessoas acerca do perigo de ir além de Cristo. Pense, por exemplo, no caso dos mulçumanos que reconhecem Cristo como sendo um profeta e logo correm em direção a Maomé. Da mesma forma os mórmons pensam que honram a Cristo e ainda deixam Ele para trás e correm em direção a Joseph Smith. Tal é o caso em grande número de movimentos religiosos. Eles trocam a luz do Filho de Deus pela fraca luz da vela do pensamento humano ou do engano satânico.

Até mesmo entre aqueles que se dizem cristãos, existe o perigo de ir além de Cristo Jesus. Pense nos erros do Catolicismo Romano. Ao Velho Testamento eles adicionam os apócrifos. Ao Novo Testamento de nosso Senhor e Salvador eles acrescentam tradição, infalibilidade papal juntamente com inúmeras visões e aparições de Maria no decorrer dos anos. O mais básico nesse sistema de erro é a crença de que os apóstolos de Cristo têm sucessores na pessoa do Papa. Tendo negado a suficiência e a integralidade da Escritura, eles têm uma revelação sempre aberta ao invés da “fé que uma vez foi dada aos santos”. Não é de maravilhar que novas doutrinas foram e estão sendo adicionadas ao sistema da crença católica [2]. A palavra final de Deus perde a sua completude.

No final das contas, o debate chega à seguinte pergunta: “O que a Bíblia ensina sobre isso?” Será que podemos provar nas Escrituras que certos dons foram apenas temporários? À primeira vista, os cessacionistas parecem estar numa posição de desvantagem. As Escrituras parecem pouco adequadas para rebaterem as acusações. Mas, será que é isso mesmo?

Como um cessacionista, eu respondo com o aviso de que nós precisamos ter cautela acerca de ideias pré-estabelecidas sobre como a Bíblia deve ensinar algo. Deixe-me ilustrar isso com uma pergunta. Onde é que diz na Bíblia que o cânon do Novo Testamento se fecharia com a morte dos apóstolos? Embora nunca tenha sido explicitamente expresso, será que tal posição não estava implícita nas promessas de Cristo feita aos apóstolos? (Veja o capítulo acerca de Sola Scriptura). Será que essas mesmas promessas também não implicariam na cessação de qualquer dom envolvendo revelação direta? Será que é lógico proibir profecias escritas e ainda permitir profecias orais? Ou a palavra de Deus está completa, ou não está.

Será que é mais racional perguntar: “Onde é que a Bíblia diz que a profecia iria se encerrar com o fim dos apóstolos?” ou perguntar “Como é que nós sabemos que o cânon se encerrou com a escrita do livro de Apocalipse por João?” Eu não questiono o fato de que muitos não-cessaciontistas sinceramente acreditem que eles são comprometidos com a completude e a perfeição das Escrituras. O que eu questiono é a consistência dessa posição deles. Talvez você já tenha ouvido do provérbio árabe acerca do focinho do camelo. Os não-cessacionistas que permitem que o ‘focinho’ das línguas e profecias entre em sua tenda não são teoricamente tão diferentes do não-cessacionista que permite que o camelo inteiro da tradição católica e da infalibilidade papal entre na tenda.

Continuando, nós percebemos que a maioria dos não-cessacionistas concorda que o ofício de apóstolo era alicerçador e temporário. Enquanto ficamos felizes pelo fato de que isso é entendido, parece estranho quando nos recordamos de que em Efésios 4:8-11 os apóstolos são classificados como “dons”. Até mesmo não-cessacionistas que são comprometidos com a Escritura devem se tornar um tipo de cessacionista.

Finalmente, eu gostaria de lembrar os nossos amigos não-cessacionistas daquilo que parece óbvio. As igrejas apostólicas tinham necessidades que nós não temos. Depois da ascensão de Cristo, um período de cerca de sessenta anos passou antes que o Novo Testamento estivesse completo. Imagine as igrejas do Novo Testamento operando com nenhuma parte, ou pouco do Novo Testamento. Como eles poderiam ter recebido verdades da nova aliança aparte do ministério dos apóstolos e profetas? É claro que tal ministério foi acompanhado de sinais para autenticar as revelações dadas (Hebreus 2:2-3). Deus supriu a necessidade deles de maneira maravilhosa. Ainda fica o questionamento sobre por que as igrejas hoje, que possuem Bíblias completas, precisariam de profetas e sinais. Verdadeiramente, uma igreja com todos os sessenta e seis livros da Escritura Sagrada está mais bem equipada do que a igreja mais dotada com os dons no tempo apostólico. Nosso tratamento deste assunto foi muito breve. Àqueles que desejem um estudo mais profundo acerca deste assunto nós recomendamos o seguinte livro: “To Be Continued”, Samuel Waldron, Calvary Press Publishing.

Finalmente, deixe-me falar aos amigos não-cessacionistas[3]. Historicamente os evangélicos têm crido que dons espirituais que envolviam direta revelação ou dons que funcionassem como sinais para autenticar essas revelações eram para ser uma base somente e cessaram com o fim dos apóstolos. A existência desses dons era considerada desnecessária àqueles que possuíssem uma Bíblia completa. Quando você afirma que esses dons operam ainda hoje, pense a quem você associa. A maioria dos Pentecostais/Carismáticos/Terceira Onda recua ante qualquer ideia em acrescentar algo à Palavra de Deus. Mas é difícil de esquivar-se de tal acusação[4]. Não são os profetas deles que declaram falar “palavras de Deus”? Quantas vezes nos seus cultos ouve-se essas expressões: “Deus me revelou” ou “Deus disse a mim”? Será que realmente há alguma diferença entre um Papa que afirma falar “ex cathedra” e um profeta que assegura aos seus adeptos de que sua mensagem vem diretamente de Deus? Será que ambas essas situações não se constituem em uma negação da suficiência e integralidade das Santas Escrituras? Será que realmente há algo a ser dito além daquilo que Deus já disse através de Seu Filho? Quando os apóstolos nos deram um relato inspirado de Cristo, a porta da revelação não foi fechada? Será que não é melhor que deixemos um cadeado nessa porta?

Cessacionismo não é algo acerca do estilo de adoração. Não é uma negação do sobrenatural ou da nossa necessidade do Espírito de Deus. Tem a ver, de fato, com o nosso ponto de vista acerca da Escritura, acerca dos apóstolos e, finalmente, acerca de Cristo Jesus. O Cessacionismo não é uma limitação ao Todo-Poderoso, mas uma exaltação de Cristo como a palavra final de Deus.

“Havendo Deus antigamente falado muitas vezes, e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, a nós falou-nos nestes últimos dias pelo Filho, a quem constituiu herdeiro de tudo, por quem fez também o mundo.” Hebreus 1:1-2

Notas

[1] João Calvino, New Testament Commentaries; A New Translation (volume on Hebrews and I and II Peter) trans. W. B. Johnson (Grand Rapids: Eerdmans Publishing Co., reprint 1974) p.6.

[2] Aqueles que desejarem mais informações acerca deste assunto podem consultar: The Gospel According to Rome (O Evangelho Segundo Roma); James G. McCarthy; Harvest House Publishers; (Eugene, Oregon 1995). Dê mais ênfase ao Capítulo 12. Nesse capítulo, o autor relata como foi que a “Assunção de Maria” se tornou um dogma Católico Romano.

[3] Um cessacionista é alguém que crê que certos dons do Espírito cessaram com a morte dos apóstolos. Um não-cessacionista nega isso. Nenhum deles questiona a existência do sobrenatural ou da necessidade de muitos dons espirituais em nossos dias. De fato, a igreja não poderia funcionar como um corpo sem dons espirituais. A controvérsia gira em torno apenas dos dons que envolviam revelação direta ou daqueles que produziam sinais. Os cessacionistas vêem tais dons como sendo estritamente apostólicos ao passo que os não-cessacionistas crêem que esses dons têm um propósito continuado.

[4] Os não-cessacionistas têm tentado esquivar-se de tal acusação afirmando a possibilidade de profecias de qualidade não canônica ou não escritural. Enquanto várias formas deste ensinamento têm sido afirmadas até mesmo por estudiosos reconhecidos, o completo ideal parece não ser convincente. Mais uma vez, somos lembrados do Catolicismo onde é dito que o Papa é o porta-voz de Deus, mas que ele é proibido de criar Escritura canônica. Para mais informações recomendamos novamente o livro de Samuel Waldron.

Autor: Ron Crisp 2007
Tradução: Eduardo Alves Cadete
Edição e formatação: Calvin Gardner 06/2012

Published inA palavra final de DeusBíblia